Sobre Encontros (2006) e o Imaginário Humanista de Pierre-Marie Goulet
Resumo
O presente artigo propõe uma análise de Encontros (2006), de Pierre-Marie Goulet, segundo filme da trilogia que o cineasta francês realizou em Portugal. Pretende-se com esta reflexão crítica dar conta do trabalho etnográfico, artístico e antropológico que Goulet desenvolveu através deste filme, em que estabelece o cruzamento entre a poesia popular, a comunidade piscatória de Furadouro, o filme Mudar de Vida (1966), de Paulo Rocha, os cantares alentejanos e corsos, e em que assinala os encontros entre Michel Giacometti, António Reis e as gentes do povo que se dedicavam a formas de expressão artística, como a camponesa e poetisa Virgínia Dias. A estrutura do filme de Goulet vai além do registo de testemunhos ou do olhar pessoal sobre a memória, lugares e afinidades eletivas entre pessoas que temporal e espacialmente poderiam estar distantes. O cineasta trabalha por associações livres, de imagens e sons, dentro de unidades temáticas que se vão acumulando e aprofundando, centrando-se na polifonia de vozes e sonoridades, na repetição de imagens que adquirem valores dramáticos diferentes. Juntamente com os restantes filmes do tríptico, Encontros contribui para aprofundar o pensamento sobre a etno-ficção e o documentário, no contexto do cinema português e da antropologia visual.
Referências
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