Devolver a História, Materializar o Trauma: Observações sobre os corpos migrantes em Cavalo Dinheiro (2014) e Vitalina Varela (2019) de Pedro Costa

Palavras-chave: Pedro Costa, trauma, corpo, materialidade, história, afeto

Resumo

Este artigo propõe uma reflexão sobre a forma como Cavalo Dinheiro (2014) e Vitalina Varela (2019), do realizador português Pedro Costa, restauram o direito de narrar e materializam os efeitos do trauma relacionados à migração e ao colonialismo, a partir de uma análise da inscrição dos corpos e subjetividades diaspóricas no espaço pós-colonial contemporâneo, mais especificamente no contexto da representação de imigrantes e descendentes de imigrantes cabo-verdianos em Portugal. Tomamos a noção de materialidade como prisma para esta análise, tanto no sentido da materialidade do aparato cinematográfico empregado pelo realizador, quanto no sentido da materialidade da própria imagem e suas operações formais na construção da experiência da história e do trauma. Argumentamos que essas operações formais, especialmente o uso da temporalidade (histórica e fílmica) e do enquadramento que criam um distanciamento, não só revelam uma estética própria como também um engajamento político e ético do cinema de Pedro Costa.

Referências

Agamben, Giorgio. 2013. “Introduction to Homo Sacer. Sovereign Power and Bare Life”. Em Biopolitics: A Reader, editado por Timothy Campbell e Adam Stize, 134-144. Durham e Londres: Duke University Press.

Arendt, Hannah. 2007. A Condição Humana. Tradução de Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense Universitária.

Arthur, Paul. 2003. “No Longer Absolute: Portraiture in American Avant-Garde and Documentary Films of the Sixties”. Em Rites of Realism: Essays on Corporeal Cinema, editado por Ivone Margulis, 93-118. Durham e Londres: Duke University Press.

Aumont, Jacques. 1992. Du Visage au Cinéma. Paris: Editions de L’Etoile/Cahiers du Cinéma.

_________. 2004. O Olho Interminável: Cinema e Pintura. Tradução de Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac Naify.

Benjamin, Walter. 1994. “Sobre o Conceito de História”. Em Magia e Técnica, Arte e Política. Obras escolhidas I, tradução de Sérgio Paulo Rouanet, 222-232. São Paulo: Brasiliense.

Bennett, Jill. 2005. Emphatic Vision: Affect, Trauma, and Contemporary Art. Bloomington: Stanford University Press.

Bhabha, Homi. 1998. O Local da Cultura, tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima Reis, Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Editora da UFMG.

_______. 2003. “Democracy De-realized.” Diogenes, 50(1): 27-35. https://doi.org/10.1177/039219210305000104

_______. 2014. “The Right to Narrate”. Harvard Design Magazine 38. http://www.harvarddesignmagazine.org/issues/38/the-right-to-narrate (último acesso a 10 dezembro 2020).

Bogue, Ronald. 2003. Deleuze on Cinema. Nova Iorque e Londres: Routledge.

Brás, Patrícia. 2014. The Political Gesture in Pedro Costa’s Films. Tese de doutorado. Birkbeck, University of London.

Didi-Huberman, Georges. 2017. “Povos expostos, povos figurantes”. Revista Vista – Políticas do Olhar 1: 16-31. https://doi.org/10.21814/vista.2963

Doane, Mary Ann. 2002. The Emergence of Cinematic Time: Modernity, Contingency and the Archive. Cambridge: Harvard University Press.

Duarte, Daniel Ribeiro. 2010. “Para que tudo seja diferente”. Em O Cinema de Pedro Costa, organizado por Daniel Ribeiro Duarte, 11-15. Centro Cultural Banco do Brasil/Associação Filmes de Quintal. https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4693546/mod_resource/content/1/Catalogo%20Pedro%20Costa%2C%20CCBB%20%282010%29.pdf (último acesso a 10 dezembro 2020).

Fajgenbaum, Emma. 2019. “Cinema as Disquiet: The Ghostly Realism of Pedro Costa”. New LeftReview 116: 137-159.

Foucault, Michel. 2014.Vigiar e Punir: Nascimento da Prisão. Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes.

Jorge, Nuno Barradas. 2014. “Thinking of Portugal, Looking at Cape Verde: Notes on Representation of Immigrants in the Films of Pedro Costa”. Em Migration in Lusophone Cinema, editado por Cacilda Rêgo e Marcus Brasileiro, 41-57. Nova Iorque: Palgrave Macmillan.

_______. 2020. ReFocus: The Films of Pedro Costa. Producing and Consuming Contemporary Art Cinema. Edimburgo: Edinburgh University Press.

Mazis, Glen A. 2016. Merleau-Ponty and the Face of the World: Silence, Ethics, Imagination and Poetic Ontology. Nova York: SUNY Press.

Mondzain, Marie-José. 2009. “Can Images Kill?”. Critical Inquiry 36: 20-51. https://doi.org/10.1086/606121

Navarro, Vinicius. 2012. “Nonfictional Performance from Portrait Films to the Internet”. Cinema Journal 51(3): 136-141.

Oliveira Jr, Luiz Carlos. 2016. “Cavalo Dinheiro e a Arte do Retrato”. Revista Cinética. 25 janeiro 2016. http://revistacinetica.com.br/home/cavalo-dinheiro-e-a-arte-do-retrato/ (último acesso a 10 dezembro 2020).

Rancière, Jacques. 2012. As Distâncias do Cinema. Tradução de Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto.

_______. 2020. “Dos Ojos en la Noche: Jacques Rancière sobre Vitalina Varela” Revista Oropel. 20 outubro 2020. http://revistaoropel.cl/index.php/2020/10/20/dos-ojos-en-la-noche-jacques-ranciere-sobre-vitalina-varela/?fbclid=IwAR06uoqySEq9S_ObcVWx_IKIFdFYkzbV-frwGz2BmyDcMRfrSAWGq8eaOq4

Rutherford, Anne. 2013. “Film, Trauma and the Enunciative Present”. Em Traumatic Affect, editado por Meera Atkinson e Michael Richardson, 80-128. Cambridge: Cambridge Scholars Publishing.

Sontag, Susan. 2003. Diante da Dor dos Outros. Tradução de Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das Letras.

Tarrant, Patrick. 2013. “Montage in the Portrait Film: Where Does the Hidden Time Lie?”. Alphaville: Journal of Film and Screen Media 5: 1-15.

Publicado
2021-07-12