Estética da Repetição em Itão Kuegü: As Hiper Mulheres (2011)

Palavras-chave: Cinema indígena, kuikuro, poética

Resumo

Este artigo se dedica a Itão Kuegü: as hiper mulheres (2011, 80 min), longa-metragem de Takumã Kuikuro, Carlos Fausto e Leonardo Sette. Reflexões antropológicas sobre aprendizagem, memorização e transmissão dos cantos entre o povo kuikuro, bem como as formas de organização do ritual Yamuricumã, são consideradas para se compreender estratégias ficcionais e poéticas. Em relação às estratégias ficcionais, analisa-se um relato de enganação, lido em paralelo com o próprio filme que engana, por meio da montagem, o espectador que desconhece os cantos-poema. Mais especificamente, sobre o poético no cinema, este trabalho se detém nos cantos-poema kuikuro. O destaque recai sobre os paralelismos e as repetições, assim como sobre os efeitos da (não) tradução dos cantos no filme. À luz dos estudos de Bruna Franchetto a respeito da estética da repetição, este texto demonstra que é possível encontrar, no cinema kuikuro, paralelismos e repetições que não são estritamente marcados ou regulares, uma vez que há uma espécie de correspondência paralelística (ou variação na invariância) nas escolhas cinematográficas.

Referências

Araújo, Juliano José de. 2012. “A realização de documentários por comunidades indígenas: notas sobre o projeto Vídeo nas Aldeias.” Texto 26: 151-169.

__________. 2014. “Práticas fílmicas do projeto Vídeo nas Aldeias.” Revista Passagens 5: 20-40.

__________. 2020. “O documentário autoetnográfico do projeto Vídeo nas Aldeias.” Teoria e Cultura 15: 122-139.

Belisário, Bernard. 2014a. As Hiper Mulheres: Cinema e Ritual entre Mulheres, Homens e Espíritos. Dissertação de Mestrado em Comunicação Social. Universidade Federal de Minas Gerais.

__________. 2014b. “Os Itseke e o fora-de-campo no cinema Kuikuro.” Devires 11(2): 98-121.

__________. 2016. “Ressonâncias entre cinema, cantos e corpos no filme As Hipermulheres.” Galaxia: 32: 65-79.

Brasil, André. 2013a. “Bicicletas de Nhanderu: lascas do extracampo.” Devires 9(1): 98-117.

__________. 2013b. “Formas do antecampo: performatividade no documentário brasileiro contemporâneo.” Revista FAMECOS 20: 578-602.

__________. 2016. “Ver por meio do invisível: o cinema como tradução xamânica.” Novos Estudos CEBRAP 3: 125-146.

Cabral, Sabrina Alvernaz e Medeiros, Sérgio Luiz Rodrigues. 2021. “Cinema ameríndio: silêncio e esquiva em tradução.” Cadernos de Tradução 41(2): 328-361. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2021.e72967.

Caixeta de Queiroz, Ruben. 2008 “Cineastas indígenas e pensamento selvagem.” Devires 5: 98-125.

_________. 2013. “Política, estética y ética en el proyecto Vídeo nas Aldeias.” Cuadernos Inter.c.a.mbio sobre Centroamérica y el Caribe 12: 39-49.

Cesarino, Pedro de Niemeyer. 2006. “De duplos e estereoscópios: paralelismo e personificação nos cantos xamanísticos ameríndios.” Mana 12: 105-135.

Fausto, Carlos. 2005. “Entre o passado e o presente: Mil anos de história indígena no Alto Xingu.” Revista de Estudos e Pesquisas 2(2): 9-51.

__________. 2011. “No Registro da Cultura.” Em Vídeo nas Aldeias 25 Anos, organizado por Ana Carvalho Ziller Araújo, pp. 160-168. Olinda: Vídeo nas Aldeias.

Fausto, Carlos, Franchetto, Bruna e Montagnani, Tommaso. 2013. “Las Formas de la memoria: Arte verbal y música entre los kuikuros del Alto Xingú.” Cuadernos Intercambio 10(12): 49-75.

Felipe, Marcos Aurélio. 2020. Ensaios sobre cinema indígena no Brasil e outros espelhos pós-coloniais. Porto Alegre: Sulina.

Franchetto, Bruna. 2003. “L’autre du même: parallélisme et grammaire dans l’art verbal des récits Kuikuro (caribe du Haut Xingu, Brésil).” Amérindia 28: 213-248.

__________. 2012. “Línguas ameríndias: modos e caminhos da tradução.” Cadernos de Tradução 30: 35-62.

__________. 2018. “Traduzindo tolo: ‘eu canto o que ela cantou que ele disse que...’ ou ‘quando cantamos somos todas hipermulheres’”. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea 53: 23-43. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/10.1590/2316-4018532.

Jakobson, Roman. 2007. Linguística, poética, cinema. São Paulo: Perspectiva.

Krenak, Ailton. 2020. A Vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras.

Penoni, Isabel. 2010. Hagaka: ritual, performance e ficção entre os Kuikuro do Alto Xingu (MT, Brasil). Tese de Doutorado em Antropologia Social – Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

__________. 2018. “Filmes feitos para ‘Guardar’ ou os dois ‘Caminhos’ do Cinema Kuikuro.” Mana 24(2): 174-198. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/1678-49442018v24n2p174.

Shamash, Sarah. 2017. “Utopic Cannibalism in Carlos Fausto, Leonardo Sette, and Takumã Kuikuro’s As Hiper Mulheres.” Em: Performing Utopias in the Contemporary Americas, edited by Kim Beauchesne e Alessandra Santos, pp. 131-147. DOI 10.1057/978-1-137-56873-1_8.

Publicado
2022-07-05
Secção
Dossier Temático