Atmosfera Fílmica e Abismos do Tempo: A melancolia pictórica em Portrait de la jeune fille en feu
Resumo
Este artigo intenta percorrer um caminho possível para a análise de um conceito instável: a atmosfera no cinema. É proposto um duplo movimento: (1) a formação da noção de uma atmosfera afetiva pela associação do jogo de vetores de força próprios da atmosfera com o vocabulário específico da teoria afetiva, aqui delimitada pelas afecções luto e melancolia amorosa; e (2) uma aproximação, dado o aspecto temporal inerente a estas afecções, entre a teoria da percepção-memória de Henri Bergson e a expressão da imagem-tempo, especificamente a definição de imagem-cristal, proposta por Deleuze. Através da iluminação e textura, referenciando a pintura e o uso constante do tableau vivant em Portrait de la jeune fille en feu (Retrato de uma Rapariga em Chamas, Céline Sciamma, 2019, França), o artigo explora a expressão da atmosfera propriamente ligada ao luto e melancolia amorosa no cinema, que deixa entrever, pelos seus abismos temporais, espaços afetivamente saturados.
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