Vidros partidos (2012), de Víctor Erice: Uma poética da montagem

Palavras-chave: Estética cinematográfica, teoria da montagem, documentário, Víctor Erice, materialidades, processos criativos

Resumo

Vidros partidos é uma curta-metragem dirigida por Victor Erice que integra o filme de produção portuguesa Centro Histórico (2012). A este projeto (produzido por Guimarães 2012, Capital Europeia da Cultura) juntaram-se os realizadores Pedro Costa, Manoel de Oliveira e Aki Kaurismäki, com curtas-metragens próprias. O filme passa-se numa fábrica do norte de Portugal e parte de uma fotografia de trabalhadores que está pendurada na parede do refeitório. É composto por diferentes entrevistas com pessoas que tiveram alguma relação com a fábrica e que, desse modo, refletem um contexto de produção que o capitalismo cognitivo fez desaparecer. No entanto, o guião é assinado pelo autor e intervém um ator profissional, o que faz colapsar a ideia de que estamos perante um documentário. A verdade do filme deve ser encontrada noutro espaço da obra, entre a ficção e o documentário. Tudo isto é acompanhado de uma proposta de montagem que tenta desvendar os segredos da fotografia que dá origem ao filme. A partir da estética dos materiais, investigaremos qual é o gesto criativo da montagem no processo criativo que se cristaliza numa textura fílmica. Concentrar-nos-emos nos modos de relação que se geram entre os materiais organizados em unidades tonais em suas diferentes partes para, assim, criar uma unidade total de discurso. A montagem de Vidros partidos, após a escrita precisa do guião e da filmagem, implica, nos termos de Lukács, uma re-antropomorfização acionada pelo ritmo fílmico, que deixa um traço da sua génese artística e expressa uma poética que explica a transição do capitalismo industrial para o capitalismo cognitivo.

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Publicado
2021-07-12