“Os sons dos filmes mudos”: Uma entrevista com Claus Tieber e Anna K. Windisch
Resumo
Nos últimos anos, as práticas musicais e sonoras do período do cinema mudo têm despertado uma atenção crescente por parte da comunidade académica, tanto no domínio dos estudos fílmicos como no da musicologia. A emergência de redes interdisciplinares, como “The Sounds of Early Cinema in Britain” (Brown e Davison 2013) e o projecto de investigação “Cabiria” em Itália (Colturato 2014), contribuíram para alargar o âmbito deste campo de estudos, revelando a importância das especificidades nacionais, regionais e locais na construção do cinema dos primeiros tempos enquanto experiência auditiva. No contexto do número temático “Música, som e a imagem em movimento”, a Aniki entrevistou Claus Tieber e Anna K. Windish, ambos investigadores na Universidade de Salzburgo e editores do volume The Sounds of Silent Films: New Perspectives on History, Theory and Practice, que resultou de um congresso internacional organizado na Universidade de Kiel em 2013. Tieber e Windish são, respectivamente, o investigador principal e a assistente de investigação do projecto “The Sound of Silents. Sound and Music in Viennese Cinemas, 1896-1930”, financiado pela FWF, a agência pública austríaca de apoio à investigação científica, e insistem, nesta entrevista, na necessidade de um trabalho colaborativo entre especialistas do cinema e da música, de modo a ultrapassar as tradicionais divisões disciplinares. Segundo eles, o foco dos estudos sobre música no cinema deve ser deslocado da abordagem de filmes individuais e da análise textual, para abranger uma perspectiva histórico-cultural mais ampla, que considere o cinema como um “evento” (Altman) e se interesse pelas formas de exibição e de performance, pelas idiossincrasias históricas e geográficas, assim como pelas condições sociais e económicas da produção cinematográfica. O estudo da música e do som no cinema deverá assim ser integrado numa “história cultural dos média” mais geral, que tome em consideração os “complexos processos inter- e transmediáticos de negociação, fusão e hibridação” que definem a experiência cinematográfica. A entrevista foi conduzida via email, entre os meses de Novembro e Dezembro de 2017.