Ensaio Sobre a 'a-encenação' no filme documentário

  • Fernão Pessoa Ramos Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Cinema do Instituto de Artes, 13083-970, Campinas SP, Brasil
Palavras-chave: Teoria do Documentário, Encenação Documentária, Pós-estruturalismo

Resumo

Neste artigo, abordamos modalidades de mise-en-scène documentária através do conceito de a-encenação. Descrevemos o corpo do sujeito-da-câmera na tomada, virado para a sensação em formas fílmicas contemporâneas. Historicamente, na tradição griersoniana, a encenação no documentário é ‘construída’, evoluindo num horizonte enunciativo marcado pelo corte educativo instrucional. A a-encenação possui a potencialidade de afirmar a diferença nos tipos ‘construído’ ou ‘direto’ (cinema verdade) da encenação documentária, ancorados, respectivamente, no modo epistêmico (clássico), ou recuado/reflexivo (direto-verdade). Como modo de encenação, a a-encenação consegue furar a tela da representação através de uma imitação excessiva da vida ou, no limite, adensando, pelo toque, um ponto que estaciona na espessura do filme. O que ela faz é grudar a matéria na sensação que parte da tomada, fazendo filme. É assim ela impõe a intuição do mundo que transcorre. Estendida na duração ela vira, dilata, estica e puxa - gosma do fluir que aprisiona a memória. A a-encenação documentária atinge o mundo através da capacidade do corpo maquínico do sujeito-da-câmera intuir a matéria além da extensão, da percepção e do entendimento. As formas da sensação e do sensitivo são, portanto, nela dominantes.

Biografia Autor

Fernão Pessoa Ramos, Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Cinema do Instituto de Artes, 13083-970, Campinas SP, Brasil
Professor Titular do Departamento de Cinema do Instituto de Artes da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). Foi presidente fundador da SOCINE (Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema), dirigindo a entidade entre 1997 e 2001. Atuou como professor convidado (em 2002 e novamente em 2015), pela Universidade Paris III /Sorbonne Nouvelle (Departamento de Cinema e Audiovisual). Em 2012 publicou "A Imagem-Câmera", de 2012. Em 2008 lançou 'Mas Afinal...o que é mesmo documentário?'. Escreveu também 'Cinema Marginal, a Representação em seu Limite' (1987). Em 2012 publicou a 3ª edição, ampliada e atualizada, da "Enciclopédia do Cinema Brasileiro", livro que organizou e escreveu com Luiz Felipe Miranda. É autor e organizador de 'História do Cinema Brasileiro'(1987) e 'Teoria Contemporânea do Cinema' (vols. I e II) (2005). É coordenador da coleção 'Campo Imagético' da Editora Papirus com mais de vinte livros publicados na área de cinema de audiovisual. Sua publicação mais recente é 'Nova História do Cinema Brasileiro', no prelo.
Publicado
2018-07-06