O desbunde como poética do jogo pós-tropicalista de Maria Gladys

Palavras-chave: Maria Gladys, pós-tropicalismo, desbunde

Resumo

No conturbado contexto político e social dos “anos de chumbo” no Brasil (1968–75), o trabalho atoral de Maria Gladys apresentou consonâncias com os primados pós-tropicalistas do “desbunde”: epíteto guarda-chuva cujas linhas de força estética e comportamental apresentavam certo niilismo e vazio existencial. O “desbunde” pregava certa exibição desinibida do corpo insubmisso em figurações que se distanciavam de modelos tradicionais e hegemônicos do jogo do ator. Com as técnicas atorais e as práticas comportamentais fiduciárias do “desbunde”, Maria Gladys se posicionou no epicentro da resistência contra a ditadura militar brasileira em filmes do movimento posteriormente denominado de Cinema Marginal Brasileiro.

Biografia Autor

Sandro de Oliveira, Universidade Estadual de Goiás

Professeur d'Histoire du cinéma et des Langues audiovisuelles à l'Université d'État de Goiás (UEG), cours de Cinéma et audiovisuel. Doctorat dans le programme Multimédia à l'Université d'État de Campinas (Unicamp) sur l'acteur expérimental au cinéma dans le travail de l'actrice Helena Ignez. Membre des groupes de recherche CRIA (Centre de Réalisation et de Recherche en Audiovisuel - UEG), GEAs (Groupe d'étude sur les acteurs du cinéma - Unicamp) et ACCRA (Approches contemporaines de la création et de la réflexion des artistes - Université de Strasbourg - France). Co-auteur du livre Helena Ignez - Actrice Expérimentale (2018, ACCRA - Université de Strasbourg, Cahiers de Recherche # 3).

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Filmografia

A família do barulho [longa-metragem, digital]. Dir. Júlio Bressane. Produção: Belair Filmes, TB Produções Ltda., Júlio Bressane, Rogério Sganzerla, Brasil, 1970. 75 mins.

Bandalheira infernal [longa-metragem, digital]. Dir. José Sette de Barros. Produção: Lagos Filmes, José Sette de Barros, EMBRAFILME, Brasil, 1975–77. 80 mins.

Cuidado, Madame [longa-metragem, digital]. Dir. Júlio Bressane. Produção: Belair Filmes, Júlio Bressane, Rogério Sganzerla, Brasil, 1970. 70 mins.

Mangue, bangue [longa-metragem, digital]. Dir. Neville D’Almeida. Produção: Neville D'Almeida Produções Cinematográficas, Marcelo França, Brasil, 1970. 80 mins.

Maria Gladys, uma atriz brasileira [curta-metragem, digital]. Dir. Norma Bengell. Produção: Raul Soares e Sônia Nercessian, Brasil, 1979. 09 mins. 15 segs.

O anjo nasceu [média-metragem, digital]. Dir. Júlio Bressane. Produção: Júlio Bressane e Mair Tavares, Brasil, 1969. 62 mins. e 48 segs.

O Capitão Bandeira contra o Dr. Moura Brasil [longa-metragem, digital]. Dir. Antônio Calmon. Produção: Trópico Cinematográfica, EMBRAFILME, Hugo Carvana, Cláudio Marzo, Antônio Calmon, Brasil, 1971. 71 mins.

Os fuzis [longa-metragem, digital]. Dir. Ruy Guerra. Produção: Jarbas Barbosa, Produções Cinematográficas Herbert Richers S.A., Embrafilme - Empresa Brasileira de Filmes S.A., 1963. 80 mins.

Sem essa, Aranha [longa-metragem, digital]. Dir. Rogério Sganzerla. Produção: Embrafilme, Belair Filmes, Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, Brasil, 1970. 102 mins.

Vida [longa-metragem, digital]. Dir. Paula Gaitán. Produção: Aruac Filmes, Pedro Tavares e Anna Sette, Brasil, 2008. 70 mins.

Publicado
2025-01-16