O desbunde como poética do jogo pós-tropicalista de Maria Gladys
Resumo
No conturbado contexto político e social dos “anos de chumbo” no Brasil (1968–75), o trabalho atoral de Maria Gladys apresentou consonâncias com os primados pós-tropicalistas do “desbunde”: epíteto guarda-chuva cujas linhas de força estética e comportamental apresentavam certo niilismo e vazio existencial. O “desbunde” pregava certa exibição desinibida do corpo insubmisso em figurações que se distanciavam de modelos tradicionais e hegemônicos do jogo do ator. Com as técnicas atorais e as práticas comportamentais fiduciárias do “desbunde”, Maria Gladys se posicionou no epicentro da resistência contra a ditadura militar brasileira em filmes do movimento posteriormente denominado de Cinema Marginal Brasileiro.
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Filmografia
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Bandalheira infernal [longa-metragem, digital]. Dir. José Sette de Barros. Produção: Lagos Filmes, José Sette de Barros, EMBRAFILME, Brasil, 1975–77. 80 mins.
Cuidado, Madame [longa-metragem, digital]. Dir. Júlio Bressane. Produção: Belair Filmes, Júlio Bressane, Rogério Sganzerla, Brasil, 1970. 70 mins.
Mangue, bangue [longa-metragem, digital]. Dir. Neville D’Almeida. Produção: Neville D'Almeida Produções Cinematográficas, Marcelo França, Brasil, 1970. 80 mins.
Maria Gladys, uma atriz brasileira [curta-metragem, digital]. Dir. Norma Bengell. Produção: Raul Soares e Sônia Nercessian, Brasil, 1979. 09 mins. 15 segs.
O anjo nasceu [média-metragem, digital]. Dir. Júlio Bressane. Produção: Júlio Bressane e Mair Tavares, Brasil, 1969. 62 mins. e 48 segs.
O Capitão Bandeira contra o Dr. Moura Brasil [longa-metragem, digital]. Dir. Antônio Calmon. Produção: Trópico Cinematográfica, EMBRAFILME, Hugo Carvana, Cláudio Marzo, Antônio Calmon, Brasil, 1971. 71 mins.
Os fuzis [longa-metragem, digital]. Dir. Ruy Guerra. Produção: Jarbas Barbosa, Produções Cinematográficas Herbert Richers S.A., Embrafilme - Empresa Brasileira de Filmes S.A., 1963. 80 mins.
Sem essa, Aranha [longa-metragem, digital]. Dir. Rogério Sganzerla. Produção: Embrafilme, Belair Filmes, Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, Brasil, 1970. 102 mins.
Vida [longa-metragem, digital]. Dir. Paula Gaitán. Produção: Aruac Filmes, Pedro Tavares e Anna Sette, Brasil, 2008. 70 mins.