A natureza no cinema queer brasileiro contemporâneo: Um lugar possível
Resumo
Este artigo propõe uma discussão acerca da natureza enquanto espaço de compreensão de práticas e de conflitos referentes à sexualidade dos protagonistas das obras de longa-metragem Vento seco (2020), dirigida por Daniel Nolasco, e A torre (2019), de Sérgio Borges. Partindo de aspectos estético-narrativos, analisamos a relação dos protagonistas com o meio natural, onde eles vivenciam a sua sexualidade, bem como a forma em que os filmes inventam um olhar sobre a natureza que aproxima cinema e política. Como resultado, compreendemos que a natureza consiste, nos filmes analisados, em um espaço de resistência ecossexual. Também percebemos que os personagens buscam o contato com a natureza para se afastarem de ambientes onde se sentem desajustados, devido ao preconceito, e para contornarem normas relacionadas tanto à sexualidade quanto à monogamia. Para além de se revelar um espaço que permite às duas obras distanciarem-se de um quadro antropocêntrico durante a construção de cenas e planos, a natureza também ajuda a articular as lutas da comunidade queer, assim como de outros grupos sociais minoritários, com demandas por ações contra a destruição do planeta e a crise climática.
Referências
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Filmografia
Apelo [curta-metragem, digital]. Dir. José Trigueirinho Neto. Brasil, 1963. 26 min.
A torre [longa-metragem, digital]. Dir. Sérgio Borges. Vitrine Filmes, Brasil, 2020. 72 min.
Maurice [longa-metragem, digital]. Dir. James Ivory. Merchant Ivory Productions, Cinecom Pictures e Film Four International, Inglaterra, 1987. 140 min.
O segredo de Brokeback Mountain [longa-metragem, digital]. Dir. Ang Lee. Focus Features e River Road Entertainment, EUA, 2005. 134 min.
Tinta bruta [longa-metragem, digital]. Dir. Filipe Matzembacher e Marcio Reolon. Avante Filmes e Besouro Filmes, Brasil, 2008. 117 min.
Transamazonia [longa-metragem, digital]. Dir. Renata Taylor, Bea Morbach e Débora McDowell. Muamba Estudio, Brasil, 2020. 74 min.
Vento seco [longa-metragem, digital]. Dir. Daniel Nolasco. Panaceia Filmes/Telecine, Brasil, 2020. 110 min.