A natureza no cinema queer brasileiro contemporâneo: Um lugar possível

  • João Paulo Wandscheer Universidade Federal do Rio Grande do Sul
  • Miriam de Souza Rossini Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Palavras-chave: Cinema brasileiro, cinema queer, natureza, sexualidade, narrativa

Resumo

Este artigo propõe uma discussão acerca da natureza enquanto espaço de compreensão de práticas e de conflitos referentes à sexualidade dos protagonistas das obras de longa-metragem Vento seco (2020), dirigida por Daniel Nolasco, e A torre (2019), de Sérgio Borges. Partindo de aspectos estético-narrativos, analisamos a relação dos protagonistas com o meio natural, onde eles vivenciam a sua sexualidade, bem como a forma em que os filmes inventam um olhar sobre a natureza que aproxima cinema e política. Como resultado, compreendemos que a natureza consiste, nos filmes analisados, em um espaço de resistência ecossexual. Também percebemos que os personagens buscam o contato com a natureza para se afastarem de ambientes onde se sentem desajustados, devido ao preconceito, e para contornarem normas relacionadas tanto à sexualidade quanto à monogamia. Para além de se revelar um espaço que permite às duas obras distanciarem-se de um quadro antropocêntrico durante a construção de cenas e planos, a natureza também ajuda a articular as lutas da comunidade queer, assim como de outros grupos sociais minoritários, com demandas por ações contra a destruição do planeta e a crise climática.

Referências

Aumont, Jacques, e Michel Marie. 2004. A Análise do Filme. Lisboa: Edições Texto&Grafia.

Costa, Alyne de Castro, e Ádamo Bouças Escossia da Veiga. 2021. “O acontecimento da Terra.” O que nos faz pensar 29(48): 277-303. https://doi.org/10.32334/oqnfp.2021n48a790.

Costa, Maria Helena Braga e Vaz da. 2013a. “Cinema e construção Cultural do espaço geográfico.” Rebeca 2(1): 250-262. https://doi.org/10.22475/rebeca.v2n1.45.

__________. 2013b. “Paisagem e simbolismo: Representando e/ou vivendo o 'real'?” Espaço e cultura: 157-166. https://www.e-publicacoes.uerj.br/espacoecultura/article/view/6144.

Guido, Lucia de Fátima Estevinho, e Cristina Bruzzo. 2011. “Apontamentos sobre o Cinema Ambiental: A invenção de um gênero e a educação ambiental.” REMEA: Revista eletrônica do mestrado em educação ambiental 27: 57-68. https://periodicos.furg.br/remea/article/view/3249.

Gaudreault, André, e François Jost. 2009. A narrativa cinematográfica. Brasília: Editora Universidade de Brasília.

Gomes, Paulo Emílio Sales. 2004. “A personagem cinematográfica.” Em A personagem de ficção, organizado por Antonio Candido, Anatol Rosenfeld, Decio de Almeida Prado e Paulo Emílio Sales Gomes, 103-117. São Paulo: Editora Perspectiva.

Halberstam, Jack. 2022. “Temporalidade queer e geografia pós-moderna.” Revista Periódicus 1(18): 282–305. https://doi.org/10.9771/peri.v1i18.52559.

Lacerda, Chico. 2015. “New Queer Cinema e o Cinema Brasileiro.” Em New Queer Cinema: Cinema, sexualidade e política, organizado por Lucas Murani e Mateus Nagime, 122-127. São Paulo: Caixa Cultural.

Lacerda Júnior, Luiz Francisco Buarque de. 2015. Cinema gay brasileiro: Políticas de representação e além. Tese de doutorado em Comunicação. Universidade Federal de Pernambuco. https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/15772.

Leão, Beto. 2001. O cinema ambiental no Brasil. Uma primeira abordagem. Goiânia: Agência Goiana de Cultura.

Lopes, Denilson. 2016. Afetos, relações e encontros com filmes brasileiros contemporâneos. São Paulo: Hucitec Editora.

Louro, Guacira Lopes. 2018. Um corpo estranho. Belo Horizonte: Autêntica.

Moore, James W. (ed.). 2016. Anthropocene or Capitalocene? Nature, History, and the Crisis of Capitalism. Oakland: PM Press/Kairos.

Mortimer-Sandilands, Catriona, e Erickson, Bruce. 2010. Queer Ecologies Sex, Nature, Politics, Desire. Bloomington: Indiana University Press.

Olivier, François. 2014. A Queer (Re)Turn to Nature? Environment, Sexuality and Cinema. Dissertação de mestrado em Inglês. Universidade de Stellenbosch, Stellenbosch. https://scholar.sun.ac.za/server/api/core/bitstreams/15354d10-5770-4745-b852-d261a3cc95e9/content.

Quinalha, Renan. 2022. Movimento LGBTI+: Uma breve história do século xix aos nossos dias. Belo Horizonte: Autêntica.

Rancière, Jacques. 2016. As distâncias do cinema. Rio de Janeiro: Contraponto.

Reich, Nicholas Tyler. 2020. “Queer Ecology in (Gay) Post-Pastoral Cinema.” ISLE: Interdisciplinary Studies in Literature and Environment 30(1): 50-76.

Seymour, Nicole. 2013. Strange Natures: Futurity, empathy, and the queer ecological imagination. Champaign: University of Illinois Press.

Silva, Mateus Nagime Barros da. 2016. Em busca das origens de um cinema queer no Brasil. Dissertação de mestrado em Imagem e Som. Universidade Federal de São Carlos. https://repositorio.ufscar.br/handle/ufscar/9909.

Filmografia

Apelo [curta-metragem, digital]. Dir. José Trigueirinho Neto. Brasil, 1963. 26 min.

A torre [longa-metragem, digital]. Dir. Sérgio Borges. Vitrine Filmes, Brasil, 2020. 72 min.

Maurice [longa-metragem, digital]. Dir. James Ivory. Merchant Ivory Productions, Cinecom Pictures e Film Four International, Inglaterra, 1987. 140 min.

O segredo de Brokeback Mountain [longa-metragem, digital]. Dir. Ang Lee. Focus Features e River Road Entertainment, EUA, 2005. 134 min.

Tinta bruta [longa-metragem, digital]. Dir. Filipe Matzembacher e Marcio Reolon. Avante Filmes e Besouro Filmes, Brasil, 2008. 117 min.

Transamazonia [longa-metragem, digital]. Dir. Renata Taylor, Bea Morbach e Débora McDowell. Muamba Estudio, Brasil, 2020. 74 min.

Vento seco [longa-metragem, digital]. Dir. Daniel Nolasco. Panaceia Filmes/Telecine, Brasil, 2020. 110 min.

Publicado
2024-07-18
Secção
Dossier Temático