CFP: Espaços “Periféricos” Contemporâneos da Imagem em Movimento (prazo: 15 de junho de 2025)

2025-03-01

Em termos conceptuais, a periferia corresponde ao espaço situado à margem de um centro, de uma área de foco e de importância. Ou seja, é uma zona secundária dentro de uma configuração específica, relegada para o lado de lá de uma fronteira que a separa, distinguindo-a, de um centro. Trata-se, por este motivo, de um conceito relacional que permite questionar as forças do poder hegemónico que anima o centro dessa mesma configuração.

No cinema e na televisão, a polaridade e tensão entre periferia/centro pode ser concebida em função das fases de construção de uma obra:

  • Dimensão ligada à produção, que inclui as indústrias criativas a funcionar fora dos eixos centrais dominantes (estruturas externas ao cinema mainstream de Hollywood, por exemplo, como as filmografias nacionais pertencentes ao Sul Global). Integra também aqueles que ocupam lugares secundários naquelas grandes estruturas, como os trabalhadores precários ou voluntários;
  • Dimensões narrativa e temática, que se concentram em personagens, espaços ou temas operativos nas margens da sociedade. Aqui, a periferia manifesta-se em textos fílmicos ou televisivos que invocam a geografia ou topografia (fronteiras físicas, desertos e zonas rurais) ou abordam fronteiras metafóricas (identidades marginalizadas a lidar com sistemas de poder);
  • Dimensões estilística e estética, que têm em conta estilos e géneros menos comerciais ou convencionais. Neste caso, a periferia prende-se com estéticas mais experimentais no modo como trabalham a forma fílmica e televisiva, porventura culturalmente mais específica do contexto em que a obra é produzida;
  • Dimensão ligada à recepção dos filmes e dos programas televisivos, que inclui os circuitos alternativos de distribuição e de exibição da obra, assim como a receção desta. A sala de cinema pode ser integrada nesta dimensão, face ao atual e massivo regime de exibição de filmes em plataformas de streaming, assim como a ausência de vozes de mulheres, pessoas racializadas e LGBTQIA+ na crítica especializada em Portugal e em países latino-americanos.

Este dossiê temático pretende examinar os Espaços “Periféricos” Contemporâneos, para mapear ideias de periferia que o cinema e a televisão materializam no século XXI, nas dimensões que mais se ligam à análise textual: narrativa e temática; estilística e estética. Mais concretamente, analisar práticas audiovisuais transnacionais, discursos culturais, referências ideológicas e artísticas que invocam as margens.

Nesta perspectiva, este dossiê propõe-se a olhar para a geografia das margens, onde se incluem identidades “periféricas”, (novos) métodos de produção e distribuição, questões estéticas e visões experimentais, num gesto que procura sobretudo atentar para o que está além das fronteiras de convenção e/ou restrição conceptual.

Ademais, partindo do conceito de paisagem, da sua natureza dialógica e da sua capacidade de invocar a ideia de fronteira – físicas ou psicológicas / abstratas – e a tensão entre centro e margem, interessa-nos pensar as fronteiras territoriais entre diferentes países, sejam elas no continente europeu e/ou no contexto americano e latino-americano – mas não exclusivamente – e como as imagens no cinema e na televisão acionam esses territórios: as suas paisagens, mobilidades, permanências e, com isso, como plasmam no seu discurso, as diversas perspectivas estéticas e de género.

Em suma, o dossiê tem ainda como objetivo questionar ideias de margem e de periferia, a partir de um gesto político de redirecionamento do foco de atenção do que tende a ocupar o centro, contribuindo desta forma para a exposição de disparidades e tensões, enquanto evidencia as vozes, as estéticas e os lugares emergentes no contexto do audiovisual no século XXI. 

Assentando-se nos estudos fílmicos e de televisão, este dossiê procura abordagens comparatistas do conceito de periferia, enquanto categoria relacional e estrutural de uma obra, oferecida pelo audiovisual produzido no século XXI. Os artigos podem incidir, ainda que não exclusivamente, nas seguintes linhas de investigação: 

  • A estética da fronteira: representações cinematográficas das margens geopolíticas;
  • O deserto e o espaço rural como paisagens alegóricas de experiências de transição, exílio ou do limiar;
  • Crimes “periféricos”: o lado sombrio do crime rural na televisão e no cinema;
  • Periferias urbanas e distopia: dos subúrbios às favelas;
  • Espaços periféricos e a crise climática: paisagens em declínio;
  • Efeitos da globalização em regiões/países “periféricos”: a paisagem enquanto lugar de resistência ou de crítica,
  • Paisagens de ruínas pós-industriais;
  • Paisagens de transição ou de exclusão: experiências de migração e mobilidade;
  • narrativas do Sul Global;
  • Fronteiras metafóricas: comunidades marginalizadas no ecrã: narrativas de resistência na televisão e no cinema contemporâneo; 
  • Paisagens oníricas, mágicas e de maravilhamento;
  • Estéticas e produções periféricas: cinema experimental, o som na evocação da periferia, meios de produção e de distribuição marginais.
  • Vozes marginais: mulheres, pessoas racializadas e LGBTQIA+, pessoas com deficiências, entre outros, na crítica especializada e na indústria criativa.

Este dossiê temático é coordenado por Filipa Rosário (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa), André Francisco (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) e Fran Rebelatto (Universidade Federal de Integração Latino-americana, Foz do Iguaçu).

Filipa Rosário é Investigadora Auxiliar no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa, onde ensina sobre cinema português e desenvolve o projecto “Os Tempos da Paisagem no Cinema Português (1960-Atualidade)”. Coordena o GT Paisagem e Cinema da AIM – Associação dos Investigadores da Imagem em Movimento. Co-editou Um Olhar Português: Cinema e Natureza no Século XXI (Sistema Solar, 2024), Archives In ‘Lusophone’ Film (Húmus, 2023), O Quarto Perdido do MoteLX. Os Filmes do Terror Português (1911-2006) (CTLX, 2022), REFOCUS: The Films of João Pedro Rodrigues and João Rui Guerra da Mata (Edinburgh University Press, 2022) e New Approaches to Cinematic Spaces (Routledge, 2019), e é autora de O Trabalho do Actor no Cinema de John Cassavetes (Sistema Solar, 2017).

André Francisco é investigador no CEAUL (Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa); Mestre em Estudos Comparatistas e doutorando em Literaturas, Artes e Culturas Modernas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Coordena o GT Paisagem e Cinema da AIM – Associação dos Investigadores da Imagem em Movimento. Encontra-se a desenvolver um projecto financiado pela FCT sobre a relação entre film noir e a paisagem em séries de televisão contemporâneas. As suas principais áreas de investigação são o noir e a relação da paisagem com as narrativas audiovisuais, em particular com o cinema norte-americano e com as séries de televisão.

Fran Rebelatto é docente e pesquisadora de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Integração Latino-americana (UNILA), em Foz do Iguaçu, no Brasil. Doutora em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense (UFF) onde desenvolveu sua tese sobre o cinema latino-americano contemporâneo e suas relações com os territórios de fronteiras, suas paisagens e personagens femininas no quadro cinematográfico. É pesquisadora dos grupos de pesquisa Cinematografia, Expressão e Pensamento, dedicado aos estudos em direção de fotografia e do Grupo de Pesquisa em Arquiteturas e Urbanismos do Sul (Maloca). Contribui com a coordenação do GT Paisagem e Cinema da AIM – Associação dos Investigadores da Imagem em Movimento. Coordena na Unila o projeto de pesquisa O Trabalho das/nas imagens a partir da análise de filmes realizados nas regiões de fronteira ao Sul do continente latino-americano. 

O prazo para submissão de artigos completos e originais é 15 de junho de 2025.

Os artigos recebidos serão sujeitos a um processo de seleção (pelos editores) e revisão cega por pares (por avaliadores externos). Os textos devem ter até 8000 palavras e incluir, em português e inglês (e também em espanhol, se essa for a língua do texto): um título, um resumo de até 300 palavras e um máximo de 6 palavras-chave.

Antes de submeter o seu artigo, reveja todas as instruções aqui: https://aim.org.pt/ojs/index.php/revista/submit-paper

Em caso de dúvida, contacte: aniki@aim.org.pt