“Não ouço nada... ouço o vento lá fora”: A música e o som enquanto lugar do mistério em Benilde ou a Virgem Mãe (1975) de Manoel de Oliveira

  • Manuel Deniz Silva Universidade de Aveiro, INET-md, 3810-193 Aveiro
Palavras-chave: Manoel de Oliveira, João Paes, José Régio, Música, som e cinema, Cinema e Teatro

Resumo

A associação entre Manoel de Oliveira e João Paes, que teve o seu início com O Passado e o Presente em 1972 e culminou no filme-ópera Os Canibais, em 1988, constituiu um exemplo único de colaboração entre um realizador e um compositor no contexto cinematográfico português. Ao longo dos sete filmes em que trabalharam em conjunto, exploraram de forma particularmente criativa a articulação entre as imagens em movimento, o som e a música. Neste artigo, pretendemos examinar a segunda colaboração de João Paes com Oliveira, Benilde ou a Virgem Mãe (1975), a partir da descrição detalhada dos elementos sonoros presentes na peça de José Régio, na planificação original de Oliveira, conservada no Centro de Documentação da Cinemateca Portuguesa, e na banda sonora do filme. Em Benilde, é a música e o som que permitem estabelecer, e ao mesmo tempo dissolver, as fronteiras entre o interior e o exterior, entre o real e o irreal, abrindo assim a possibilidade de uma representação cinematográfica do “mistério divino”. Procuraremos, dessa forma, assinalar a importância que Benilde teve na trajectória creativa de Oliveira, não apenas como o filme em que se consolidou a relação entre o seu cinema e o género teatral, mas também como um momento fundamental para o desenvolvimento da sua particular concepção do filme enquanto objecto audio-visual, que continuaria depois a explorar nos seus filmes do “período da maturidade”.

Biografia Autor

Manuel Deniz Silva, Universidade de Aveiro, INET-md, 3810-193 Aveiro

Manuel Deniz Silva é investigador integrado do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos de Música e Dança (Universidade de Aveiro). Doutorado em Musicologia, coordena a linha temática “Música e média” do INET-md e foi investigador principal do projecto “À escuta das imagens em movimento” (2010-2013), financiado pela FCT. Co-editou Composing for the State: Music in 20th-Century Dictatorships (Ashgate, 2016) e é editor da revista Kinetophone: Journal of Music, Sound and Moving Image e co-editor da Revista Portuguesa de Musicologia (Nova Série).

Publicado
2018-01-18
Secção
Dossier Temático