Casa tomada: o medo em El hombre de al lado (Gastón Duprat e Mariano Cohn, 2009)

  • Natalia Christofoletti Barrenha Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Instituto de Estudos da Linguagem, Programa de Pós-Graduação em Teoria e História Literária, 13083-970
Palavras-chave: cinema argentino contemporâneo, medo, El hombre de al lado, Casa Curutchet, literatura argentina.

Resumo

Hugo Hortiguera (2014) nota que a situação de deterioração ou lassidão dos laços sociais é, talvez, um dos elementos que mais significativa e insistentemente vem se projetando no discurso cinematográfico argentino da última década. Além de uma “fuga da cidade”, o autor observa um recolhimento na casa, que aparece nos filmes como último refúgio onde se proteger e escapar. Mas os conflitos também alcançam essa zona íntima: uma divisão parece ter possuído os espaços mais recônditos. El hombre de al lado (Duprat e Cohn, 2009) toca de maneira contundente a questão da casa como espaço íntimo fraturado – revela-se um tecido de desconfianças que a atinge, passando do lugar que provê proteção a seus habitantes para se transformar em mais um espaço instável da cidade. O filme constata e desdobra um problema de comunicação e negociação na diferença que provoca uma mudança radical na forma de morar na casa Curutchet (projeto de Le Corbusier). Propomos analisar como o filme concebe esse espaço em desintegração através das correspondências e dissonâncias entre a casa e seus moradores, pensando como estão suspensos na diegese valores que guiaram a construção da Curutchet e como constantes ressignificações desses valores promovem a emergência do que Freud conceituou como estranho. Ademais, a forma de localizar os personagens, articulada à suspeita que rege a relação que o protagonista estabelece com o “vizinho”, nos leva a fazer conexões com clássicos da literatura argentina que implantaram conceitos fundamentais para se pensar o país e suas divisões, como o conto “Casa tomada”, de Julio Cortázar, e “Cabecita negra”, de Germán Rozenmacher.

 

Biografia Autor

Natalia Christofoletti Barrenha, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Instituto de Estudos da Linguagem, Programa de Pós-Graduação em Teoria e História Literária, 13083-970
Pós-doutoranda no Instituto de Estudos da Linguagem - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Doutora pelo PPG Multimeios do Instituto de Artes - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Autora de A experiência do cinema de Lucrecia Martel: resíduos do tempo e sons à beira da piscina (Alameda Editorial e Fapesp, 2013). Codiretora da Imagofagia, revista da Asociación Argentina de Estudios de Cine y Audiovisual (AsAECA). Curadora e produtora de mostras audiovisuais, entre elas Histórias extraordinárias: cinema argentino contemporâneo (Caixa Cultural Rio de Janeiro, 2016 e 2017).
Publicado
2018-01-02