Nenhum caminho para casa: silêncio, lentidão e o problema da autenticidade no cinema de Lisandro Alonso
Palavras-chave:
Lisandro Alonso, Slow Cinema, ficção documental, Jacques Rancière, autenticidade
Resumo
Na sua trilogia, composta por La Libertad (2001), Los Muertos (2004) e Liverpool (2008), o realizador argentino Lisandro Alonso emprega um motivo narrativo distintivo: a viagem de indivíduos solitários através de paisagens desertas na Argentina rural. De uma perspetiva comparada, a chave para o entendimento destes trajetos introvertidos é considerar a construção de espaço narrativo em torno da miséria de um vazio brutal e nomeadamente a ausência do lar. Para Alonso, o lar não é um destino pacífico que conota a intimidade de uma família, serenidade ou simplesmente o lugar onde se pode sonhar em paz (Bachelard). A ausência do lar torna-se o ponto cego destas viagens: o lar revela-se afinal como um horizonte partido. Neste texto, concentrar-me-ei sobretudo no filme Los Muertos e no modo como nele se radicaliza o espaço narrativo através da combinação de silêncio cinemático (a ausência de palavras e diálogos) e lentidão cinemática (longos planos-sequência), ao mesmo tempo que se formula um vazio que coincide com a ausência de um lar do protagonista. Para além disso, este texto tenta considerar como o realismo cinemático radical de Alonso problematiza o conceito de autenticidade, tanto na sua formação moderna como no contexto da noção de ficção documental de Rancière e da relação entre estética e política teorizada por este mesmo autor.
Publicado
2015-07-31
Secção
Ensaios