Mulheres e espaço no cinema contemporâneo (prazo: 15 de Junho de 2019)

2019-01-31

A segunda metade do século XX foi marcada, em muitos países, por novas relações entre mulheres e espaço. O incremento do acesso ao mercado de trabalho e aos diferentes níveis de ensino foram importantes conquistas para as mulheres, ainda que atravessadas por assimetrias de classe, raça e região. Um pouco por todo o mundo, enquanto lutavam por mais direitos sociais, laborais e sexuais, as mulheres foram não só abandonando, e ocupando de diferentes formas, o espaço doméstico, como começando a habitar, de forma crescente, o espaço público e mediático.

Tais transformações não demoraram a se fazer sentir no cinema. Não por acaso, em diferentes filmes produzidos nos anos 1960 e 1970, vemos nas telas mulheres que flanam, trabalham ou lutam pela sua sobrevivência nas ruas de diferentes cidades. O espaço natural, muitas vezes usado como metáfora para a condição feminina, porque imbuído de valores tradicionalmente associados às mulheres, como pureza, emoção e irracionalidade, torna-se também espaço de contestação. As mulheres ocupam ao mesmo tempo os espaços de representação e de produção do cinema. No Brasil, nos anos 70, pela primeira vez houve um aumento significativo de diretoras. Algumas delas conseguiram não só realizar uma segunda obra como se mantêm em atividade até hoje. Em Portugal, após 30 anos de intervalo, e do trabalho de Bárbara Virgínia nos anos 40, surgem novamente, nos anos 70, algumas mulheres cineastas. O número crescente de mulheres que têm vindo a ocupar lugares de destaque nas mais diversas áreas da indústria cinematográfica não se restringe a estes dois países.

Neste momento, uma vez mais verificamos uma intensificação das discussões sobre mulheres e cinema. Trata-se de um fenômeno que certamente tem particularidades locais, mas pode ser considerado global, como o demonstram os movimentos estadunidenses Time’s Up e #MeToo, que dialogam com bandeiras levantadas dentro de outras nacionalidades. Diante de tal contexto, o presente dossiê buscará reunir textos que contemplem as múltiplas formas de se aproximar do tema mulheres e espaço no cinema contemporâneo. Desta maneira, convidamos à submissão de artigos que se debrucem sobre os seguintes temas, ou tópicos relacionados:

  • Contribuições teóricas sobre mulheres e espaço no cinema do século XXI
  • Espaços ocupados por mulheres dentro e fora do écran no cinema do século XXI
  • Mulheres e espaço urbano no cinema contemporâneo
  • A natureza e o feminino no cinema do século XXI
  • O arquivo enquanto espaço feminino
  • Os espaços de distribuição do cinema feito por mulheres
  • Mulheres e espaços de visionamento de cinema
  • Novas abordagens ao espaço ocupado pelas mulheres na história do cinema e na crítica cinematográfica
  • As escalas do cinema de mulheres: o feminino e os espaços locais, nacionais e globais no cinema contemporâneo

Este Dossier Temático é coordenado por Mariana Liz (Universidade de Lisboa) e Marina Tedesco (Universidade Federal Fluminense).

Mariana Liz é Investigadora de Pós-Doutoramento no ICS-ULisboa, o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Concluiu um doutoramento em Estudos Cinematográficos no King’s College London em 2012, e deu aulas no King’s, na Queen Mary e na Universidade de Leeds, no Reino Unido, antes de se mudar para Portugal em 2016. É autora de Euro-Visions (2016) e coordenadora do volume Portugal’s Global Cinema (2018). Coordenou, com Hilary Owen (Oxford/Manchester), o projecto Portuguese Women Directors, financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Actualmente, trabalha sobre a representação audiovisual das cidades na Europa contemporânea.

Marina Cavalcanti Tedesco é cineasta e diretora de fotografia. Atua como professora do Departamento de Cinema e Vídeo e do Programa de Pós-graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense (Niterói, Brasil). Pesquisadora das questões de gênero e sexualidade no audiovisual, entre suas principais publicações se destacam a co-organização dos livros Feminino e plural: mulheres no cinema brasileiro (2017) e Corpos em projeção: gênero e sexualidade no cinema latino-americano (2013), o capítulo sobre cinema no livro Explosão feminista: arte, cultura, política e universidade (2018) e diversos artigos sobre estes temas em revistas brasileiras e internacionais.

O prazo para submeter os artigos termina a 15 de junho de 2019. Todos os artigos recebidos serão sujeitos a um processo de seleção e revisão cega por pares. Antes de submeter o seu artigo completo, consulte as Políticas de Secção, as Instruções para Autores e a Política de Revisão por Pares.

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