Os arquivos fílmicos e a memória: documentos e ficções (prazo: 30 de dezembro de 2014)
Nos últimos anos, a problemática dos arquivos fílmicos invadiu a reflexão da História, filosofia e psicologia. Das cinematecas aos discursos sobre o trauma e a memória, o arquivo reivindicou um protagonismo que, há apenas duas décadas atrás, estava nas mãos dos profissionais das cinematecas e de cineastas ou documentaristas especializados.
No entanto, os documentos de arquivo, ainda considerados fetiches, são objeto de intervenção por parte de quem os reutiliza. Nos usos mais convencionais que fazem os canais de História das televisões, são coloridos e adaptados às condições sonoras da atualidade, reduzindo ou anulando, por conseguinte, a sua historicidade. Noutras ocasiões, são explorados por procedimentos digitais, montados, comentados em voz-off, interrompidos. Mas existe algo mais: a necessidade de recorrer ao arquivo gerou uma especial angústia naqueles casos em que um acontecimento não possui um documento que o cristalize ou, quando existe, seja considerado insuficiente ou inadequado. Nestes casos, a ficção constrói um arquivo paradoxal que se projetará para o futuro. Como alguns estudos recentes puseram em destaque, o efeito de arquivo é muitas vezes acompanhado por um afeto de arquivo, uma ambígua coloração emocional (Jaimie Baron).
Nenhum conjunto de imagens demonstra melhor isto do que a representação de acontecimentos extremos em que a imagem e o som são postos à prova, da propaganda totalitária à violência, da apropriação de uma imagem para inverter a sua intenção ou sentido original ao seu entendimento como traço indelével da memória coletiva.
Este dossier tem por objeto a genealogia desses documentos de arquivo, a sua (re)criação, as migrações a que foram submetidos, tanto na dimensão diacrónica (ao longo da história), como sincrónica (entre os diferentes media através dos quais se desliza: fotografia, cinema, televisão, Internet…). Desta forma, procura analisar as consequências que estes deslocamentos e reescritas possuem na esfera pública (a leitura do passado, a memória coletva, a escrita da história).
Os artigos recebidos serão sujeitos a um processo de selecção e de revisão cega por pares.
Antes de submeter o seu artigo completo, consulte as Políticas de Secção, as Instruções para Autores e a Política de Revisão por Pares.
Vicente Sánchez-Biosca é professor catedrático de Comunicação Audiovisual na Universitat de València e foi professor visitante nas Universidades de Paris III e Paris I, New York University, Universidade de São Paulo, entre outras. Entre os seus últimos livros contam-se NO-DO: el tiempo y la memoria (2000), El pasado es el destino. Propaganda y cine del bando nacional en la guerra civil (2011), ambos em colaboração com Rafael R. Tranche, Cine de historia, cine de memoria. La representación y sus límites (2006), Cine y guerra civil española: del mito a la memoria (2006). Atualmente, dirige um projeto de investigação sobre a função da imagem na construção do carisma dos líderes políticos em Espanha e outro sobre a representação das vítimas de genocídios.