Adeptos do “fatual”. Le retour à la raison (1923) de Man Ray, Anémic cinema (124-26) de Marcel Duchamp e Dream Work (2001) de Peter Tscherkassky
Resumo
O presente artigo procura demonstrar que o cinema, por resultar em artefatos produzidos tecnicamente, era uma média insatisfatória para os Dadaístas, contrário ao seu sentido de instantaneidade. O artigo focaliza na noção de “facticidade”, inspirada em Wieland Herzfeld, autor esse para quem Dada representava uma reação a todas as tentativas de negar o “fatual”. Manifestações de Dada, por exemplo o readymade, performances ao vivo, colagens, fotomontagens, e também fotogramas, comprovam uma nova e radical compreensão do realismo na arte, porque aderem a um “conceito anti-mimético do realismo” (Elsaesser 1996). Argumentarei que Dada não capitulou perante o cinema, senão assumiu um compromisso ao explorar estratégias diversas para reinserir o “fatual” na média de reprodução. Isto aconteceu 1) ao fazer da exibição do filme uma performance ao vivo; 2) ao provocar uma reação corporal do espectador; 3) ao experimentar com formas de realizar filmes artesanais e sem câmera; e 4) ao chamar atenção para a existência material do aparelho fílmico. Todas estas estratégias compartilham o desejo de reduzir (mas não necessariamente de abolir) a distância entre “realidade” e representação para manter a tatilidade primária do filme, descrita também por Walter Benjamin (1973) no seu texto “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”.