Sophia de Mello Breyner Andresen (1969), de João César Monteiro: A (im)possível perseguição cinematográfica da poesia
Resumo
O artigo aborda o filme Sophia de Mello Breyner Andresen (1969), de João César Monteiro, lendo-o como um ensaio cinematográfico sobre a essência da poesia e do próprio cinema que toma como matéria de trabalho a escrita da autora que dá título à obra. Propõe-se um percurso analítico pela estrutura e pelo conteúdo imagético do filme que o revela como um registo documental em que, apesar do esforço para a captação da pessoa de Sophia mediante a desconstrução da persona composta a partir da sua criação literária, foi impossível contornar a força da palavra escrita e das obsessões temáticas, intertextuais e até formais que singularizam o universo literário erigido pela autora até ao final dos anos 60. Mediante a identificação, no filme, de um arranjo estrutural de matriz essencialmente literária, o artigo examina o seu objeto enquanto veículo de captação fílmica da poesia – uma veleidade a que o seu realizador explicitamente se furtou num texto posterior – e explora os recursos – também eles de cunho marcadamente literário – que ativamente fazem desta obra um mecanismo cinematográfico de interrogação sobre o milagre poético que a escrita de Sophia configura, reconhecidamente, perante a crítica e o público.