Feminismo, pós-humanismo e a questão racial em The Beguiled, de Sofia Coppola

Resumo

The Beguiled (Sofia Coppola, EUA, 2017) é um de vários filmes recentes a apresentar cogumelos como um dispositivo narrativo importante. Neste ensaio, argumento que o recurso à imagem do cogumelo permite que o cinema remeta para questões relacionadas com o Antropoceno, ou o período durante o qual o homem capitalista moldou o mundo mais do que o mundo moldou o homem capitalista. Em particular, proponho que a associação entre mulheres e fungos sugere que o Antropoceno acarreta uma visão antropocêntrica e patriarcal do mundo. Isto é, The Beguiled sugere que o Antropoceno é especificamente definido pelo homem capitalista - cujo mundo deve agora ser substituído por um que possa ser considerado feminista e pós-humano, também por causa da forma como as mulheres do filme utilizam os cogumelos para derrubar a figura masculina central, o soldado John McBurney (Colin Farrell). No entanto, The Beguiled também postula os limites de um mundo feminista e pós-humano, seja através do seu cenário de guerra ou do seu estatuto enquanto adaptação/remake do filme de Don Siegel, de 1971, com o mesmo título. Ao omitir do seu filme a personagem principal, Hallie, interpretada no original de Siegel por Mae Mercer, conhecida no romance de Thomas P. Cullinan como Mattie, Sofia Coppola levanta de forma consciente a questão racial - precisamente por torná-la invisível ou ausente. Esta omissão não é necessariamente racista na sua origem e, no entanto, o estilo elíptico e a utilização da Madewood Plantation House como local de filmagem no filme de Coppola sugerem subtilmente que o próprio cinema é uma força ao serviço do Antropoceno branco, e que a negritude, como um cogumelo e como a mulher, surgirá como o seu substituto pós-cinematográfico.