O Domínio do Ensaio no Cinema: A cinescrita de Agnès Varda e a fala ao lado de Trinh T. Minh-ha

Palavras-chave: Filme-ensaio, cinema etnográfico, cinescrita, falar ao lado, não-ficção

Resumo

Este artigo procura fomentar uma reflexão acerca do formato do filme-ensaio, enfocando alguns de seus gestos, tais como o imbricamento de forma e conteúdo, imagem e pensamento, domínios pessoal e político, assim como a marca da autorreflexividade na tessitura dos filmes. Partindo da análise de L’Opéra-Mouffe (1958) e de Daguerréotypes (1975), da cineasta francesa Agnès Varda, discutiremos o gesto de uma escrita para além de si, presente em sua cinescrita. A partir do pensamento da cineasta vietnamita Trinh T. Minh-ha e de sua obra Reassemblage (1982), veremos como sua enunciação propõe um engajamento com a imagem através de um olhar descolonizado e um modo de representação relacional que ela define como uma fala “ao lado” (speak nearby). Através desses dois gestos propostos pelas cineastas, faremos uma aproximação do filme-ensaio ao campo do cinema etnográfico, enfocando as potencialidades estéticas e narrativas dessas duas escritas audiovisuais.

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Publicado
2022-07-05
Secção
Dossier Temático