O universo de coisas de Apichatpong Weerasethakul: A fenomenologia para além da relação entre o humano e o mundo
Resumo
De Misterioso objeto ao meio dia (2000) a Cemitério do Esplendor (2015), Apichatpong Weerasethakul faz cinema como quem intui uma melodia ou um tom. Ele dilata o tempo presente em uma sucessão de eventos e sensações simultâneos, instalando seus personagens e nós, espectadores, em um estado de perplexidade diante do mundo. Ele transforma os objetos e paisagens mais comuns em imagens inefáveis e enigmáticas, em zonas espectrais onde tudo é passageiro, fugaz e mutante, onde todos seres existem em um mesmo status ontológico. A fenomenologia nos ajuda a explorar este cinema, a responder às demandas que esses filmes parecem nos impor. No entanto, para atender plenamente aos mistérios de Apichatpong, temos de ir ainda mais longe na descentralização da humanidade. Temos de entrar em territórios não humanos. A fenomenologia precisa de ajuda quando ultrapassamos a questão do humano e do mundo. Nosso objetivo é propor um diálogo entre Maurice Merleau-Ponty e Alfred North Whitehead. Pensar com eles e Apichatpong é afirmar um ponto de partida diferente da teoria do cinema clássico e, ao fim, explorar sua aposta ontológica.