O filme como conjunto de práticas: Uma distensão performativa do restauro cinematográfico
Resumo
Neste artigo pretendo explicar de que modo, no cinema, dois conceitos fundamentais do restauro como são autentico e original, carecem de uma explicitação e compreensão totais. O conceito de original cinematográfico é um que manifesta uma ideologia mercantilista de constante renovação monetária do arquivo. No entanto existem alguns exemplos de filmes que tendo várias versões escapam da mercantilização desses referidos conceitos. Com base nesses exemplos proponho a noção de filme como conjunto de práticas, isto é, passar a entender uma obra cinematográfica não como um objecto singular e bem limitado material e historicamente, mas antes pelo contrário, como um objecto plural que apresenta as suas múltiplas versões como um conjunto em permanente actualização – dando especial atenção ao modo como diferentes práticas musicais e sonoras consubstanciam uma noção aberta de obra cinematográfica. Esta noção de filme como conjunto de práticas no contexto do restauro cinematográfico propõe, em termos práticos (no que respeita à visibilidade pública dos filmes), uma distensão dos objectos fílmicos na proporção múltipla das versões dele conservadas. Um exemplo do filme como conjunto de práticas, que analisarei é a edição em DVD de três versões distintas de Douro, Faina Fluvial (1931) de Manoel de Oliveira – três versões que diferem na montagem e, especialmente, no acompanhamento musical. Esta proposta deriva da transposição das práticas de catalogação dos arquivos cinematográficos para o universo do cinema em casa (na forma de DVDs, Blu-rays, torrents e pacotes de streaming).