A paisagem no cinema: imagens para pensar o tempo através do espaço
Resumo
O dossiê temático publicado no número 4.1. da Aniki. Revista Portuguesa da Imagem em Movimento intitula-se ‘Paisagem e Cinema’. O conteúdo da sua introdução corresponde, em primeiro lugar, a um breve estado da arte, que ancora este trabalho dentro da bibliografia sobre o tema e, em segundo lugar, a uma descrição sintética dos discursos desenvolvidos pelos seis artigos que compõem o dossiê: o primeiro estuda a evolução histórica e estética do fundo no cinema russo e soviético das primeiras décadas do século XX; o segundo analisa as representações da paisagem portuguesa na obra do cineasta Manuel Guimarães; o terceiro identifica determinadas técnicas que funcionam como figuras de estilo do psychological landscape film, como a justaposição ou a sobreposição; o quarto interpreta o significado das paisagens urbanas brasileiras que aparecem na longa-metragem A Vida Provisória (Maurício Gomes Leite, 1968); o quinto investiga as relações físicas e conceptuais entre o corpo, a memória e a paisagem através de uma leitura sensorial dos filmes Ten Skies (James Benning, 2004) e Sin Peso (Cao Guimarães, 2007); e, por último, o sexto propõe uma análise comparativa de três trabalhos sul-americanos de não-ficção que mostram distintas paisagens aquáticas como lugares de memória: El botón de nácar (Patricio Guzmán, 2015), Los durmientes (Enrique Ramírez, 2015) e Las aguas del olvido (Jonathan Perel, 2013). O objetivo deste texto preliminar é, portanto, apresentar os principais conteúdos do dossiê e adiantar alguma das suas conclusões. Neste sentido, convém salientar o caráter aberto e polissémico da paisagem, que funciona, dentro e fora do cinema, como um palimpsesto que acumula múltiplos significados. Por este motivo, o cinema que retrata, cria e intervém na paisagem permite perceber, entre outras coisas, a superposição de tempos históricos e subjetivos que se produz em determinados espaço.