'Histoire(s) du cinéma': o arquivo do século. Intuições warburgianas sobre a história
Resumo
Contemporâneo da emergência do video e, mais tarde, da cultura digital, Jean-Luc Godard profanou a historiografia hegemónica ao usar a história do cinema para reescrever a sua própria história do século. Nos oito volumes de Histoire(s) du cinéma (1988-1998), Godard articulou uma noção de arquivo fílmico que tenta desconstruir as representações convencionais do passado. Do mesmo modo, no seu atlas Mnemosyne, Aby Warburg propôs uma escrita da história da arte que escapa à crono-normatividade da historiografia do século XIX. A leitura combinada destas perspetivas permite-nos reavaliar a premissa segundo a qual o arquivo é tanto um ponto de partida como de chegada para a escrita (audio)visual contemporânea. De facto, estas perspetivas podem ser pensadas como contra-modelos da escrita historiográfica que valorizam o poder heurístico da imagem para apreeender o passado e lutar contra as ideias feitas sobre ele. À luz destas considerações, este artigo tem como objetivo investigar estes dispositivos como um leque de maneiras diferentes de pensar sobre a relação entre cinema e história.