A natureza brasileira como inverso do paraíso no filme A ilha dos prazeres proibidos de Carlos Reichenbach (1979)

  • Bruno Bello Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Palavras-chave: Paisagem, paraíso, boca do lixo, Reichenbach, cinema brasileiro, identidade brasileira

Resumo

A partir da análise do filme A ilha dos prazeres proibidos, de Carlos Reichenbach (1979), este artigo busca explorar os problemas afectos à representação da paisagem que se relacionam, direta ou indiretamente, com a formação da identidade nacional brasileira. A hipótese principal é a de que este filme, em seu discurso e estilo, opera uma crítica ao modelo do que se convencionou chamar paisagem brasileira. Demonstro que há uma construção discursiva, reiterada ao longo da história, na qual a natureza brasileira foi tomada predominantemente como análoga ao paraíso. A ilha dos prazeres proibidos, em um sentido irônico, crítico e contrário a essa visão, permite também uma nova forma de olhar e de representar a paisagem. Para fazer esta análise, procuro relacionar o filme de Reichenbach com a pintura de Frans Post e com o cinema de Glauber Rocha, que consagraram modos de olhar distintos para a natureza brasileira.

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Filmografia

A ilha dos prazeres proibidos [longa-metragem, digital]. Dir. Carlos Reichenbach. Galante Filmes/Ouro Filmes. Brasil, 1979. 96 min.

Deus e o diabo na terra do Sol [longa-metragem, digital]. Dir. Glauber Rocha. Copacabana Filmes, Luiz Augusto Mendes Produções Cinematográficas/Banco Nacional de Minas Gerais. Brasil, 1964. 120 min.

Os incompreendidos [longa-metragem, digital]. Dir. François Truffaut. Les Films du Carrosse, SEDIF Productions/Cocinor. França, 1959. 99 min.

Terra em transe [longa-metragem, digital]. Dir. Glauber Rocha. Mapa Produções Cinematográficas/Difilm. Brasil, 1967. 106 min.

Publicado
2024-07-18
Secção
Dossier Temático