Editorial #1
Os Editores

A Aniki: Revista Portuguesa da Imagem em Movimento, apresentada aqui através do seu primeiro editorial, toma o seu nome da primeira longa-metragem de Manoel de Oliveira, Aniki-Bobó (1941), que, por sua vez, usou a rima de eliminação através da qual as crianças determinam quem é polícia e quem é ladrão numa história sobre gente pequena que já sofria as desventuras de gente grande. Esta primeira revista académica digital portuguesa que se dedica exclusivamente ao cinema e não só, homenageia, assim, o grande cineasta português e o seu olhar heterogéneo sobre o mundo onde o polícia pode ser uma emanação do mal e o ladrão do bem.

Fazendo alusão a um clássico do cinema português, a revista não pretende publicar “apenas” textos críticos sobre o cinema, mas também dar acesso às abordagens que se ocupam de toda a abrangência implicada na ideia da “imagem em movimento”, seja no formato de filmes em película ou digitais, vídeos ou instalações, televisão, etc. Possui, de facto, um interesse declarado na história e teoria da tecnologia que juntou o som à imagem e está aberta a receber artigos inéditos sobre o grande leque que ela oferece. Além dos ensaios, revistos com arbitragem científica (isto é, com dupla revisão cega por pares), a Aniki publicará ainda nas suas secções entrevistas com pesquisadores e cineastas de destaque, recensões críticas de livros e relatórios de congressos internacionais, bem como textos críticos sobre exposições e festivais.

Embora assinale a sua proveniência nacional, como revista portuguesa, a Aniki pensa decididamente além fronteiras e não se limitará nem ao audiovisual português, nem à língua portuguesa. A revistaentende-se como sendo internacional, com editores de Portugal e do Brasil, e com um Conselho Consultivo do qual muito se orgulha e que provém dos mais diversos países, incluindo Alemanha, Brasil, Estados Unidos, França, Holanda, Reino Unido e Portugal. Publicará para alcançar um vasto público em Português e Inglês, bem como, em casos especiais, em Castelhano, Francês e Italiano.

Se bem que seja editada pela primeira vez no início de 2014 como publicação bianual, já possui uma pequena história. É a cria da AIM, Associação de Investigadores da Imagem em Movimento, fundada em 2010, a primeira do seu tipo em solo português. Durante o seu primeiro encontro anual em Faro, em 2011, foi gerada, para nascer, oficialmente como projeto aprovado no encontro de Lisboa, em 2012. Começou a gatinhar na apresentação do corpo editorial e do Conselho Consultivo no último encontro em Coimbra, em 2013, para agora, finalmente, andar pelas suas próprias pernas.

O cordão umbilical foi cortado. Porém haverá sempre uma relação forte entre mãe e filha. Os encontros anuais da AIM e as publicações na Aniki permanecerão ligados, sobretudo por meio do dossier temático, cujos autores serão sempre convidados, e as entrevistas que procurarão aprofundar o diálogo com os conferencistas convidados do evento académico.

 

Os ensaios
Para este número inaugural, convidámos também os autores da secção de Ensaios, neste caso Lúcia Nagib, Manuela Penafria e Ismail Xavier, elementos do nosso Conselho Consultivo. Estes artigos ilustram bem o desejo da Aniki de publicar textos que aliem uma forte componente teórica e conceptual à análise de obras individuais, no campo do cinema ou das manifestações mais recentes da imagem em movimento, sobre obras e autores consagrados ou ainda por descobrir.

A secção abre com a pré-publicação de um ensaio inédito de Lúcia Nagib, elaborado a partir da comunicação feita pela autora no XVI Encontro Socine (o equivalente da AIM no Brasil), que sairá em 2014 (Dennison, 2014), no qual desenvolve a sua reavaliação da categoria de cinema pós-moderno através da oposição comumente aceite entre cinema clássico e cinema moderno. Partindo de três filmes escolhidos tendo como critério a partilha do local de filmagens, entre outras ligações extra-filmes (O estado das coisas/Der Stand der Dinge (1982) de Wim Wenders, Terra estrangeira (1995) de Walter Salles e Daniela Thomas e Mistérios de Lisboa (2010) de Raúl Ruiz), Nagib defende que, nestes filmes, predomina uma representação do espaço urbano como espaço de ruínas, estagnação e desertificação, herança clara do cinema europeu do pós-guerra como iconografia de stasis reflexiva temporal ou do “tempo fora dos eixos” (Deleuze, 1983). Esta posição, representada ainda por André Bazin, é, no entanto, posta em causa pela ideia de pós-moderno em Jean-François Lyotard (1979) em diálogo com o carácter auto-reflexivo do cinema clássico (Mulvey, 2011; Hansen, 2000). Como solução a esta teleologia histórica do progresso, Nagib sugere que através da análise da stasis reflexiva e da inversão de escala no cinema obtemos indicadores mais fiáveis para a demarcação clássico-moderno-pós-moderno.

Manuela Penafria discute no seu ensaio “A Web e o documentário: uma dupla inseparável” a relação intrínseca entre a Internet e a produção de filmes documentaristas. Após oferecer uma definição do “webdocumentário”, desenvolvendo o conceito proposto por Gantier (2011), a autora aponta o que este tipo de filme acrescenta à compreensão do documentário ao colocar novamente em questão a ligação deste com o mundo. Num terceiro passo, Penafria avalia ainda as diferenças que surgem para o espectador que, fazendo uso da interatividade, torna-se explorador das obras propostas. Para melhor demonstrar as suas sugestões teóricas, a autora apresenta em seguida alguns exemplos de webdocumentários, com destaque para Journey to the End of Coal (2008), de Samuel Bollendorf e Abel Ségrétin.

O artigo “A teatralidade como vetor do ensaio fílmico no documentário brasileiro contemporâneo”, de Ismail Xavier, resulta da conferência plenária que o autor apresentou no III Encontro Anual da AIM, em Coimbra, em maio de 2013. Neste texto, Xavier analisa o filme Jogo de cena (2007), de Eduardo Coutinho, inscrevendo-o na tradição do filme-ensaio. Segundo Xavier, a indefinição entre o documental e o encenado que caracteriza este filme e que desestabiliza a certeza sobre a identidade dos intervenientes filmados impõe uma reflexão sobre a performatividade inerente aos processos de subjetivação não só teatrais, mas também cinematográficos. Xavier argumenta que a originalidade de Jogo de cena enquanto filme-ensaio consiste, justamente, na interseção destas estratégias de reflexividade teatrais e cinematográficas, que analisa através do conceito de teatralidade (Féral, 2011).

 

O dossier temático e a entrevista
Neste primeiro número, o dossier resulta de uma das temáticas do último encontro da AIM, nomeadamente do modo como as tecnologias digitais de produção e distribuição da imagem em movimento têm vindo a revitalizar práticas da cinefilia, mas também os próprios métodos dos estudos de cinema. O mote é dado pela entrevista a Laura Mulvey, cujo trabalho recente (2006), bem como a sua conferência no encontro de 2013, tem incidido, justamente, sobre estas questões. Nesta entrevista, a autora discute as suas próprias experiências de remontagem de excertos de filmes produzidos em Hollywood na década de 1950. Através dessas remontagens, mas também das práticas de visionamento não-linear permitidas pelos reprodutores de vídeo e DVD, Mulvey dá largas ao fascínio cinéfilo por aquelas obras, ao mesmo tempo que as submete a uma análise rigorosa, capaz de desconstruir os mecanismos fílmicos que reiteram os preconceitos de género e de raça daquele período da história norte-americana.

O dossier propriamente dito foi editado por Tiago Baptista e inclui textos de Catherine Grant, Christian Keathley e Malte Hagener. Autora de vários ensaios e teorizadora do potencial crítico e educativo do género (2013), Catherine Grant prolonga a reflexão de Mulvey sobre o encontro entre a curiosidade intelectual da académica e o fascínio fetichista da cinéfila, sugerindo como o vídeo-ensaio pode sintetizar e reconciliar estes dois interesses. Partindo da sua própria experiência enquanto autora de mais de 60 vídeo-ensaios, Grant defende que o interesse desta forma não passa apenas pelo seu potencial enquanto ferramenta pedagógica, mas também, e sobretudo, pelo alargamento dos métodos de produção de conhecimento tradicionalmente empregues pelos estudos de cinema a uma prática criativa.

Estabelecendo uma relação entre o seu trabalho e o de Mulvey, Christian Keathley sugere uma leitura de alguns momentos decisivos de It Happened One Night (Frank Capra, 1934). O autor de Cinephilia and History, or The Wind in the Trees (2006) reflete sobre o poder do pormenor fílmico, a relação desse pormenor com a história do cinema e com a história em geral, e os modos como as novas tecnologias digitais  (de acesso aleatório, com possibilidade de parar a imagem ou de reduzir a velocidade das imagens) convidam a um posicionamento do espectador — que geralmente se associa ao do cinéfilo — que facilita a descoberta de tais momentos. Através do comentário de três planos do filme de Capra, Keathley defende que a atração por estes momentos únicos, cuja descoberta é multiplicada pelas novas tecnologias, apenas demonstra como a curiosidade intelectual do académico e o fascínio fetichista do cinéfilo estão sempre inevitavelmente interligados na experiência do cinema.

Finalmente, o artigo de Malte Hagener fornece uma perspetiva histórica sobre o encontro entre tecnologia e cinefilia. Coeditor de um livro de referência sobre a cinefilia (de Valck e Hagener 2005) e coautor de um estimulante livro sobre a teoria de cinema (Elsaesser e Hagener 2009), Hagener sugere que algumas das operações críticas que o DVD permite atualmente — como, em particular, a dissociação entre comentário e imagem — já haviam sido prefiguradas pelas práticas críticas e cinematográficas da Nouvelle Vague e, de modo geral, pela cultura cinéfila europeia dos anos 1960. O artigo retoma e desenvolve um artigo publicado anteriormente na revista italiana Bianco & Nero, que autorizou generosamente a sua utilização pelo autor e pela Aniki.

 

As recensões de livros e conferências
Adriana Martins assegura a recensão aos dois volumes de Ficções do Real no Cinema Português: Um País Imaginado (2011), de Leonor Areal, garantindo que, com a publicação da dissertação de doutoramento da autora, esta se impõe, com louvor, no rol dos investigadores que têm estudado a evolução do cinema português dado o trabalho profundo e bem documentado aí patente.

Ana Balona de Oliveira lê criticamente The Migrant Image: The Art and Politics of Documentary during Global Crisis (2013), de TJ Demos, que analisa as imagens em movimento da globalização em filmes, vídeos e fotografias, as quais forjam uma política da e a partir dessa migração que é inextricável da resposta afetiva que provocam em quem vê. Tal é o pretexto, por parte do autor, para uma crítica da prática das formas tradicionais do documentário sobretudo no âmbito da retórica dos média e da propaganda governamental. Oliveira integra (e critica) as considerações de Demos no âmbito do que considera ser um “projeto ético-político” deste, que assume a forma de um “porvir” em termos de ação visando a transformação positiva por via de uma prática artística politicamente orientada.

A segunda edição de Cinema e censura em Portugal (2001), de Lauro António, que, embora revista e aumentada, mantém as ideias e a estrutura da edição original de 1978 há muito esgotada, é objeto de recensão por Ana Bela Morais, que se tem dedicado ao estudo, aprofundado e na longa duração, das atas e processos relativos à censura ao teatro e ao cinema durante o Estado Novo. Morais considera esta obra referencial mas introdutória ao tema, apontando a ausência de critério explícito na seleção dos processos fílmicos ou a falta de uma conclusão como contraponto à recolha, notável, de documentação e à preocupação do autor em fundamentar os seus comentários.

Graça P. Corrêa assina a recensão de Cinema and Experience: Siegfried Kracauer, Walter Benjamin and Thedor W. Adorno (2012), de Miriam Bratu Hansen, em que, através de análise atenta dos textos sobre cinema e cultura de massa escritos pelos autores canônicos pela estudiosa contribui de modo fundamental para os estudos fílmicos, desafiando asserções banalizadas e propondo novas leituras das teorias destas figuras chaves da Escola Crítica de Frankfurt.

A “Visible Evidence” — Conferência Internacional de Cinema Documental e Media, que se realizou entre 15 e 18 de agosto, em Estocolmo, é objeto de recensão por Raquel Schefer. Além de relevar o programas das atividades paralelas, Schefer considera significativa a grande quantidade de intervenções sobre cinema político assim como a reavaliação do cinema a partir de uma política dos afetos e da sensação julgando-as reveladoras de dinâmicas sociais que não deixam indiferente o mundo académico.

 

As exposições e festivais
A secção “Exposições e festivais” debruça-se sobre quatro acontecimentos: o festival equatoriano de cinema documental Edoc (realizado em quatro cidades equatorianas entre maio e junho de 2013), a exposição Film na Galeria Solar de Vila do Conde (junho-setembro 2013), o Doc’s Kingdom, seminário internacional sobre cinema documental (Faial-Pico, setembro de 2013) e a exposição Pasolini-Roma (Paris, Cinémathèque Française, outubro 2013-janeiro 2014). A nossa escolha reflete a vontade da Aniki em tratar tanto manifestações nacionais de interesse internacional como a de alargar o espectro dos eventos cobertos a regiões e territórios — tanto no sentido geográfico como conceptual — ainda pouco conhecidos do panorama nacional. Um relatório de Jorge Flores Velasco sobre a 12º edição do Edoc, Encuentros del Otro Cine, permite-nos, precisamente, descobrir um dos mais antigos e concorridos festivais de cinema documental do Equador, atraindo todos os anos cerca de 15.000 espectadores entre as cidades de Quito, Guayaquil, Cuenca e Manta. O autor (que também participa no festival como programador) discute, entre outros, a forma como o festival tem formado o público equatoriano e contribuído para a empresa urgente de conservação do património audiovisual nacional.

Já o texto assinado por Margarida Medeiros remete-nos para uma exposição organizada numa das galerias nacionais mais ativas no domínio do que poderíamos chamar de “arte cinemática”, se por isso entendermos o campo complexo onde se cruzam hoje o cinema e a arte contemporânea. A exposição Film (inaugurada na Galeria Solar poucos dias antes da 21º edição do Curtas Vila do Conde) debruçou-se sobre um dos temas que mais tem agitado a crítica nos últimos anos: o fim da película — que, para alguns, é a crónica da morte anunciada do cinema — e a passagem para o digital. A propósito da exposição, Margarida Medeiros explora uma série de questões, que vão da porosidade entre o cinema, a galeria e o museu, à materialidade do dispositivo cinematográfico.

Lúcia Ramos Monteiro regressa a esta questão no contexto da sua discussão da exposição Pasolini-Roma (que viajou do Centre de Cultura Contemporània de Barcelona até à Cinémathèque Française, em Paris). A hipótese original da autora consiste em afirmar que o verdadeiro desafio da exposição — que se concentra sobre as relações entre o cineasta italiano e a cidade de Roma — consiste na proposta de expor não só as imagens em movimento (tanto as de Pasolini, como, por exemplo, as que o crítico e universitário Alain Bergala realizou), mas sobretudo a palavra.

O texto assinado por Pablo Cayuela concentra-se sobre a última edição do Doc’s Kingdom. Este Seminário internacional de cinema documental é um dos acontecimentos mais singulares e importantes do panorama nacional: não sendo nem um festival nem um acontecimento académico, o Doc’s Kingdom reúne diferentes participantes em torno de um programa de filmes comum, com o intuito de criar um “choque formativo”. A mudança para os Açores, depois de dois anos de interrupção (e um historial de dez edições realizadas em Serpa entre 2001 e 2010), assinala o começo de um novo ciclo que Cayuela nos dá a conhecer. Excecionalmente, o seu texto foi também publicado no que poderá ser o derradeiro número da excelente revista Blogs & Docs: Revista on line dedicada a la no ficción. No momento em que nasce a Aniki, a Blogs & Docs encontra-se seriamente ameaçada, devido à falta de apoios financeiros. Que fique aqui a homenagem e a solidariedade da Aniki para com o excelente trabalho dos nossos colegas espanhóis.

[Aniki vol. 1, n.º 1 (2014): 1-7 | ISSN 2183-1750 | doi:10.14591/aniki.v1n1.53]

 

Bibliografia
António, Lauro. 2001. Cinema e censura em Portugal. 2ª ed. Lisboa: Biblioteca Museu República e Resistência.
Areal, Leonor. 2011. Ficções do Real no Cinema Português: Um País Imaginado. 2 vols. Lisboa: Edições 70.
de Valck, Marijke e Malte Hagener, ed. 2005. Cinephilia: Movies, Love and Memory. Amsterdam: Amsterdam University Press.
Deleuze, Gilles. 1983. Cinéma 1: L’Image-mouvement. Paris: Les éditions de Minuit.
Demos, TJ. 2013. The Migrant Image: The Art and Politics of Documentary during Global Crisis. Durham and London: Duke University Press.
Dennison, Stephanie org. 2014. World Cinema: as novas cartografias do cinema mundial. Campinas: Papirus.
Elsaesser, Thomas e Malte Hagener. 2009. Film Theory: An Introduction through the Senses. London/New York: Routledge.
Féral, Josette. 2011. Théorie et pratique du théâtre: Au-delà des limites. Montpellier: L’Entretemps.
Gantier, Samuel. 2011. “L’expérience immersive du web documentaire: études de cas et pistes de réflexion.” Les Cahiers du Jornalisme nº 22/23 — Automne: 118-133.
Grant, Catherine. 2013. “Déjà-Viewing?: Videographic Experiments in Intertextual Film Studies.” Mediascape: UCLA's Journal of Cinema and Media Studies (winter 2013). http://www.tft.ucla.edu/mediascape/Winter2013_DejaViewing.html. Accessed November 29, 2013.
Hansen, Miriam. 2000. “The mass production of the senses: classical cinema as vernacular modernism.” In Reinventing Film Studies, org. Christine Gledhill e Linda Williams, 332-51. Londres: Arnold.
Hansen, Miriam Bratu. 2012. Cinema and Experience: Siegfried Kracauer, Walter Benjamin and Theodor W. Adorno. Berkeley: University of California Press,
Keathley, Christian. 2006. Cinephilia and History, or The Wind in the Trees. Bloomington: Indiana University Press.
Lyotard, Jean-François. 1979. La Condition postmoderne. Rapport sur le savoir. Paris: Les éditions de Minuit.
Mulvey, Laura. 2006. Death 24x a Second: Stillness and the Moving Image. London: Reaktion Books.
Mulvey, Laura. 2011. “Rear-Projection and the Paradoxes of Hollywood Realism.” In Theorizing World Cinema, org. Lúcia Nagib, Chris Perriam e Rajinder Dudrah, 207-220. Londres/Nova York: I.B. Tauris.