Festivais de cinema e os seus contextos socioculturais (prazo: 15 de julho de 2020)

2020-03-15

Entre o final dos anos 1990 e ao longo dos anos 2000, os festivais de cinema proliferaram globalmente, ajustando-se às novas tendências de exibição de filmes num contexto de crescente especialização das indústrias dos media e de desenvolvimento urbano. Para melhor compreender tais fenómenos culturais, o campo emergente dos estudos de festivais de cinema progrediu rapidamente (De Valck 2007, Iordanova 2009-2014, Wong 2011, De Valck, Kredell e Loist 2016; De Valck e Falicov 2015), expandindo o seu leque para novas abordagens metodológicas e disciplinares – como os estudos urbanos, a sociologia ou a antropologia –, para citar apenas alguns. Este dossiê temático propõe-se privilegiar as pesquisas focadas nos contextos socioculturais dos festivais de cinema, na linha de alguns trabalhos pioneiros – centrados nos públicos de festivais (Ethis 2001), no envolvimento dos participantes com o festival e respetivos discursos (Bazin 1955, Dayan 2000, Leão, 2007, 2007/2008), nas condições de trabalho (Loist 2011) ou nas políticas/práticas ativistas (Tascón 2017).

À medida que o campo dos estudos sobre festivais de cinema evoluiu, emergiram novas regiões e tradições de pesquisa, o que dilatou o alcance geográfico e as abordagens linguísticas da pesquisa em festivais de cinema. Esses novos olhares contemplam, por exemplo, números temáticos em publicações na República Checa (Iluminace, Bláhová 2014) ou em Espanha (Secuencias, Vallejo 2014). O presente dossiê temático da Aniki. Revista Portuguesa da Imagem em Movimento visa contribuir, justamente, para a descentralização dos estudos dos festivais de cinema. Propomos realçar a importância dos contextos socioculturais criados em torno dos festivais de cinema sob dois ângulos: o primeiro refere-se às conjunturas que promoveram a criação de festivais de cinema numa era de crescente especialização (redes profissionais, contextos históricos, desenvolvimento urbano); o segundo aborda o festival como um agente ativo que gera novos contextos socioculturais, reforçando diferentes tipos de envolvimento dos públicos (ativismo político, novas ´cinefilias´, movimentos estéticos, entre outros aspetos). Qual é o lugar e a contribuição dos festivais para um domínio cultural específico? Que tipo de experiência de públicos têm vindo a construir  e como? Qual é a contribuição dos festivais para a indústria cinematográfica local? E para o desenvolvimento urbano? Quais são as suas implicações políticas e o relacionamento com as instituições governamentais?

Estamos especialmente interessadas ​​em trabalhos que abordem áreas pouco exploradas dos estudos de festivais de cinema, incluindo, entre outros, pesquisa de públicos, história do cinema e práticas de programação; bem como festivais ​​e espaços geoculturais sub-representados. 

Eixos temáticos:

Os ensaios submetidos podem incluir, embora não exclusivamente, os seguintes tópicos:

  • História do cinema e festivais de cinema
  • Estudos de públicos
  • Características e dinâmica do trabalho cultural em festivais de cinema
  • Festivais de cinema como espaços de trabalho em rede
  • Impacto social de festivais de cinema, construção de comunidades e ativismo
  • Festivais de cinema e política
  • Estudos urbanos e festivais de cinema
  • Políticas de programação e práticas de curadoria
  • Festivais de cinema e cinemas nacionais ou movimentos de filmes
  • Línguas e culturas não hegemónicas e festivais de cinema

Referências bibliográficas:

BAZIN, André (1955 [2009]). “The Festival Viewed as a Religious order” in Richard PORTON (ed.), Dekalog 3: On Film Festivals. London: Wallflower Press, pp. 13-10. Original Version in French: «Du festival considéré comme un ordre» (Les Cahiers du cinéma, june 1955), pp. 54-56.

BLÁHOVÁ, Jindřiška (2014) (ed.) Iluminace. Journal of Film Theory, History, and Aesthetics (special issue on film festivals), Vol. 26, nº1.

DAYAN, Daniel. 2000. “Looking for Sundance: The Social Construction of a Film Festival,” in Ib BONDEBJERG (ed.). Moving Images, Culture and the Mind. Luton: University of Luton Press, pp. 43-52.

DE VALCK, Marijke. 2007. Film Festivals. From European Geopolitics to Global Cinephilia. Amsterdam: Amsterdam University Press.

DE VALCK, Marijke, and FALICOV, Tamara. 2015- (general editors). Framing Film Festivals series. New York: Palgrave MacMillan.

DE VALCK, Marijke, KREDELL, Brendan, and LOIST, Skadi (2016). Film Festivals: History, Theory, Method, Practice. London, New York: Routledge.

ETHIS, Emmanuel (dir.). (2001). Aux marches du palais, le festival de Cannes sous le regard des sciences sociales. Paris: La Documentation française.

IORDANOVA, Dina (general editor). 2009-2014. Film Festival Yearbook series. St Andrews: St Andrews Film Studies.

LEÃO, Tânia (2007). “O(s) Público(s) do Fantasporto: Perfis-tipo de Modalidades de Apropriação Ritualista do Festival Internacional de Cinema do Porto”. Trajectos, 11, pp. 31-44.

LEÃO, Tânia (2007/2008). “O Fantástico em Análise. Algumas Notas Sobre o estudo Compreensivo da 23.ª Edição do Fantasporto”. Sociologia - Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. 17/18, pp. 81-109.

LOIST, Skadi. 2011. “Precarious Cultural Work: About the organization of (Queer) Film Festivals”. Screen, 52:2, pp. 268-273.

TAILLIBERT, Christel (2009). Tribulations Festivalières. Les Festivals de Cinéma et Audiovisuel en France. Paris: L’Harmattan.

TASCÓN, Sonia. 2015. Human Rights Film Festivals: Activism in Context. New York: Palgrave Macmillan.

VALLEJO, Aida (ed.) 2014. Secuencias. Revista de Historia del cine , 39, first semester. Special issue on film festivals. “Presentación”, pp.7-9.

WONG, Cindy Hing-Yuk. 2011. Film Festivals. Culture, People, and Power on the Global Screen. London: Rutgers University Press.

 

Este Dossiê Temático é coordenado por Aida Vallejo (Universidade do País Basco) e Tânia Leão (Universidade do Porto - Instituto de Sociologia).

Aida Vallejo é historiadora do cinema e antropóloga social e trabalha como Professora Associada na Universidade do País Basco (UPV / EHU), onde ensina teoria e prática de documentário. É doutora em História do Cinema pela Universidade Autónoma de Madrid, com um estudo sobre festivais de documentário na Europa e detém um mestrado em teoria e prática de documentário pela Universidade Autónoma de Barcelona. Aida é a fundadora e coordenadora do grupo de trabalho de Cinema Documental da European Network for Cinema and Media Studies (NECS). Publicou extensivamente sobre festivais de cinema e etnografia dos media, documentário e narratologia. É coeditora de Film Festivals and Anthropology (com María Paz Peirano) e dos dois volumes da série Framing Film Festival da Palgrave MacMillan: Documentary Film Festivals Vol. 1: Methods, History, Politics; e Documentary Film Festivals vol. 2: Changes, Challenges, Professional Perspectives. Em espanhol, editou um número temático sobre festivais de cinema na Secuencias. Revista de Historia del Cine. Foi a principal pesquisadora do projeto IkerFESTS, que mapeia festivais de cinema na região basca. Realizou trabalho de campo em vários festivais internacionais, principalmente festivais europeus.

Tânia Leão é socióloga, mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias de Informação pelo ISCTE–IUL (Instituto Universitário de Lisboa) e doutorada em Sociologia pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. O interesse pelos festivais de cinema portugueses enquanto objeto de estudo é antigo. Num primeiro momento focado nos públicos e na esfera da recepção cinematográfica, veio a abrir-se, mais tarde, à diversidade de dimensões que compõem os festivais e enformam a experiência de ser público naqueles contextos. É, ainda neste âmbito, autora de uma tese de doutoramento intitulada Públicos de Festivais de Cinema em Portugal: Um Estudo Comparado (2019). Fez parte do Observatório das Atividades Culturais (OAC) e é, atualmente, investigadora integrada do Instituto de Sociologia da Universidade do Porto (IS-UP) no subgrupo de investigação em 'Criação Artística, Práticas e Políticas Culturais'. Membro da Associação Portuguesa de Sociologia (APS), onde dinamiza a secção temática de 'Arte, Cultura e Comunicação', tem publicações na área da Sociologia da Cultura, práticas culturais e de lazer, educação e metodologias qualitativas. Tem colaborado com alguns dos principais festivais de cinema em Portugal (com particular interesse pela programação e respetivos serviços educativos).

O prazo para submeter os artigos termina a 15 de julho de 2020.

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