O documentário de arte no pós-guerra
Resumo
Na sequência do Holocausto e de Hiroshima, o estudo da criatividade humana tornou-se central para reestabelecer a humanidade na civilização moderna. Ao acompanhar de perto o documentário de arte, o crítico francês André Bazin escolheu esse gênero e sua relação com a pintura, ao ser essa a mais elitista das médias. No caso do filme Van Gogh (1948) de Alain Resnais, Bazin utilizou o encontro do cinema com a pintura como exemplo de uma simbiose entre os objetos das naturezas mortas e a capacidade de objetiva-los através da câmera. Os escritos do crítico sobre o documentário de arte foram guiadas também pela vocação antropológica e cosmológica do cinema. Ao fazer da moldura pictórica a tela do cinema, o Van Gogh de Resnais decentraliza o espectador, dando-lhe acesso a um mundo introspectivo de paisagens e interiores onde o próprio pintor é um participante ausente ou uma figura anónima em vez de um protagonista em controle. Enquanto os autorretratos de Van Gogh são esquivos e as metáforas científicas de Bazin vitalistas, a psicologia humana e sua profundidade permanecem misteriosos, bem como a criatividade da natureza do nosso planeta e a origem de vida no cosmos.