Corpo e afeto: atualizações do regime de atrações no cinema brasileiro contemporâneo

  • Mariana Baltar Universidade Federal Fluminense, Brasil
Palavras-chave: Cinema de atrações, cinema brasileiro, corpo, narrativa

Resumo

Este artigo parte de uma observação geral de parcela significativa do cinema brasileiro contemporâneo de cunho mais autoral para defender o que tenho identificado como atualizações e permanências do regime de atrações. Desdobrando o importante conceito de cinema de atrações, tangencia-se uma reflexão sobre a centralidade do corpo na contemporaneidade, especialmente em relação a questões de gênero e racialização, abordando também as dinâmicas e interconexões entre atrações e narrativa e como estas mobilizam engajamentos afetivos entre corpo do filme e corpo do espectador. Argumento que, nesta atualização do regime de atrações, o gesto e as performances (dos corpos em cena e da interação destes com o corpo fílmico) acabam por operar um efeito afetivo que promove uma força disruptiva no tecido narrativo, convocando, desse modo, um outro olhar e um outro vocabulário analítico, mais em sintonia com teorizações vinculadas ao afeto, corpo e sensações.

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Filmografia

À beira do planeta Mainha soprou a gente. [curta-metragem, digital] Dir. Bruna Barros e Bruna Castro. Brasil. 2020. 13 minutos.

A seita. [longa-metragem, digital] Dir. André Antônio. Brasil. 2015. 70 minutos.

Amor, plástico e barulho. [longa-metragem, digital] Dir. Renata Pinheiro. Brasil. 2015. 85 minutos.

Batguano. [longa-metragem, digital] Dir. Tavinho Teixeira. Brasil. 2014. 74 minutos.

Bixa travesty. [longa-metragem, digital] Dir. Claudia Priscilla, Kiko Goifman. Brasil. 2019. 75 minutos.

Boi neon [longa-metragem, digital] Dir. Gabriel Mascaro. Brasil. 2015. 101 minutos.

Como era gostoso meu cafuçu. [curta-metragem, digital] Dir. Rodrigo Almeida. Brasil. 2015. 15 minutos.

Corpo elétrico. [longa-metragem, digital] Dir. Marcelo Caetano. Brasil. 2017. 95 minutos.

Doce amianto. [longa-metragem, digital] Dir. Guto Parente e Uiros Reis. Brasil. 2013. 70 minutos.

Esse amor que nos consome. [longa-metragem, digital] Dir. Allan Ribeiro. Brasil. 2012. 80 minutos.

Estudo em vermelho. [curta-metragem, digital] Dir. Chico Lacerda. Brasil. 2015. 16 minutos.

Ilha. [longa-metragem, digital] Dir. Ary Rosa, Glenda Nicácio. Brasil. 2018. 96 minutos.

Inferninho. [longa-metragem, digital] Dir. Guto Parente e Pedro Diógenes. Brasil. 2018. 82 minutos.

Mate-me por favor. [longa-metragem, digital] Dir. Anita Rocha da Silveira. Brasil. 2015. 101 minutos.

Meu nome é Bagdá. [longa-metragem, digital] Dir. Caru Alves de Souza. Brasil. 2021. 86 minutos.

Negrume. [curta-metragem, digital] Dir. Diego Paulino. Brasil. 2018. 22 minutos.

Pendular. [longa-metragem, digital] Dir. Julia Murat. Brasil, Argentina, França. 2017. 108 minutos.

Pouso autorizado. [curta-metragem, digital] Dir. Áquila Jamille. Brasil. 2019. 15 minutos.

Tatuagem. [longa-metragem, digital] Dir. Hilton Lacerda. Brasil. 2013. 108 minutos.

Tinta bruta. [longa-metragem, digital] Dir. Filipe Matzembacher e Márcio Reolon. Brasil. 2018. 117 minutos.

Uma paciência selvagem me trouxe até aqui. [curta-metragem, digital] Dir. Érica Sarmet. Brasil. 2021. 26 min.

Vento seco. [longa-metragem, digital] Dir. Daniel Nolasco. Brasil. 2020. Duração: 110 minutos.

Publicado
2023-07-15