Materialidade e Materialismo em Scenes from the Class Struggle in Portugal (1977-79), de Robert Kramer e Philip Spinelli

Palavras-chave: Robert Kramer, cinema político, cinema revolucionário, revolução e cinema, materialidade e materialismo no cinema, Jean-Paul Fargier, Revolução Portuguesa (1974-75)

Resumo

Realizado por Robert Kramer e Philip Spinelli, Scenes from the Class Struggle in Portugal (1977-79) é um dos mais importantes filmes sobre a Revolução Portuguesa de 1974-75. Se a obra de Kramer se inscreve e participa da viragem autorreferencial do cinema militante e engajado nas décadas de sessenta e setenta, Scenes from the Class Struggle, filme de produção norte-americana, integra-se plenamente na história do cinema português, a tal ponto nele se imbricam uma representação crítica, analítica, materialista e dialética da Revolução e uma proposta formal e material em linha com as principais tendências do cinema da Revolução de 1974-75, particularmente no que respeita à tensão entre engajamento político e experimentação formal que atravessa uma parte significativa do seu corpus. Este artigo procura indagar de que maneira o filme de Kramer e Spinelli é atravessado por questões que se prendem com a materialidade e o materialismo do cinema. Estes aspetos fazem de Scenes from the Class Struggle um filme que não só se debruça sobre a Revolução de 1974-75 e as suas figurações no cinema, mas também questiona crítica e ativamente a possibilidade de representação cinematográfica de um processo revolucionário e a própria possibilidade de representação. Em primeiro lugar, o artigo reconstitui brevemente a complexa história material do filme. Em seguida, argumenta que Scenes from the Class Struggle releva de um cinema materialista e dialético, de acordo com a aceção de Jean-Paul Fargier, retomada por Dominique Noguez: é um filme que não procura refletir o “real”, nem tão-pouco produzir uma impressão de realidade, mas que, ao tomar como ponto de partida a sua materialidade fílmica e a materialidade do mundo, dá a ver essa dupla materialidade num mesmo movimento, servindo-se, para tal, de estratégias autorreflexivas e autorreferenciais.

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Publicado
2021-07-12