Ética do Slow Cinema: Lentidão e hesitação no cinema contemporâneo
Resumo
Recentemente, teóricos e críticos cinematográficos observaram o aparecimento, nas últimas três décadas, de um “cinema de lentidão”. O conceito de Slow Cinema é recuperado neste artigo, buscando possíveis conexões históricas e culturais com outras experiências de desaceleração do tempo. Categorias como flâneur (Benjamin), o blasé (Simmel) e o pensamento sobre a hesitação, na filosofia de Bergson, já apontavam para a descompressão da duração do intervalo entre estímulo e resposta. O conceito de imagem-tempo (Deleuze) auxilia-nos a explorar o surgimento de uma ética da lentidão no cinema moderno. Por fim, analisando filmes de Wim Wenders, Abbas Kiarostami e Cristi Puiu, sugerimos que o Slow Cinema investe numa temporalização das passagens de causa e efeito como modo de produção de uma situação favorável à reconexão entre sujeito e mundo.
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