Apropriação da figura do revolucionário pelo grande capital: Uma análise de Marighella (2019)

Palavras-chave: Marighella, representação, revolucionário, estética da violência, naturalismo cruel, capital

Resumo

Neste artigo, analisamos o filme Marighella (2019), uma cinebiografia do guerrilheiro comunista brasileiro Carlos Marighella (1911-1969), a fim de entender a representação do revolucionário, sabendo que a obra é um produto da O2 Filmes e da Globo Filmes, empresas de maior capital no campo cinematográfico brasileiro. Com base nas premissas de que as obras audiovisuais expressam visões de mundo específicas e que estas têm relação com o grupo produtor, argumentamos que, embora Marighella diga respeito a um famoso revolucionário, a narrativa cinematográfica expressa um discurso anti-revolucionário, que o coloca, inclusive, como terrorista. Argumentamos também que o faz reproduzindo o estilo que o grupo produtor em questão tornou hegemônico na representação da violência no cinema brasileiro, a saber, o estilo do ‘naturalismo cruel’. Discutimos, por isso, as implicações dessa estética na trama, interrogando quais os efeitos que ela tem na representação do revolucionário e da violência, bem como na construção do ponto de vista narrativo e do discurso político.

Referências

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Filmografia

Antônia [série, digital] Dir. Jorge Furtado. O2 Filmes/TV Globo, Brasil, 2006-2007. 30 min.

Bacurau [longa-metragem, digital]. Dir. Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. SBS Productions/CinemaScópio/Globo Filmes, Brasil, 2019. 132min.

Carlota Joaquina: Princesa do Brazil [longa-metragem, digital]. Dir. Carla Carmurati. Quanta Central de Produção, Brasil, 1995. 101min.

Cidade de Deus [longa-metragem, digital]. Dir. Fernando Meirelles. O2 Filmes/Globo Filmes/VideoFilmes, Brasil, 2002. 130min.

Cidade dos homens [longa-metragem, digital]. Dir. Paulo Morelli. O2 Filmes/Globo Filmes/Fox Film, Brasil, 2007. 110min.

Cidade dos homens [série, digital]. Dir. Fernando Meirelles e Kátia Lund. O2 Filmes/TV Globo, Brasil, 2002-2005. 30 min.

Domésticas [longa-metragem, digital]. Dir. Fernando Meirelles e Nando Olival. O2 Filmes/TV Cultura, Brasil, 2001. 90min.

Judas e o messias negro [longa-metragem, digital]. Dir. Shaka King. MACRO/Participant/Bron Creative/Proximity, EUA, 2021. 126min.

Marighella [longa-metragem, digital]. Dir. Wagner Moura. O2 Filmes/Globo Filmes, Brasil, 2019. 157 min.

Medida provisória [longa-metragem, digital]. Dir. Lázaro Ramos. Lereby Produções/Lata Filmes/Globo Filmes/Melanina Acentuada, Brasil, 2022. 94min.

On vous parle du Brésil: Carlos Marighella [longa metragem, digital]. Dir. Chris Marker. Société pour le Lancement des Oeuvres Nouvelles (SLON)/Iskra, France, 1970. 20min.

Tropa de elite [longa-metragem, digital]. Dir. José Padilha. Zazen Produções/The Weinstein Company, Brasil, 2007. 118min.

Publicado
2024-01-29