Paisagem e cinema (prazo: 30 junho 2016)
Cartografar a Paisagem através da Imagem em Movimento: Da Imagem do Mundo ao Mundo das Imagens
O cinema surgiu como prolongamento da lógica planimétrica, não apenas pelas afinidades que apresentava com o atlas, mas sobretudo pela capacidade de mostrar, no menor tempo possível, os lugares do mundo, fazendo da sala de cinema o teatro das viagens da modernidade do novo voyeur-voyageur, como explica Giuliana Bruno. O cinema é, portanto, uma tecnologia de lugar, pois corresponde a uma prática estética e social capaz de produzir espacialidades através de imagens em movimento: por um lado, representa mais ou menos fielmente paisagens e lugares; por outro, constrói espaços complementares ou alternativos aos seus referentes reais.
Esta capacidade é partilhada por outros média audiovisuais, como a televisão, os videojogos ou muitas aplicações digitais para tablets e telemóveis aparecidas nos últimos anos. As suas imagens já não reproduzem o mundo sensível, mas o inteligível, desestabilizando a experiência comum do espaço e do tempo: atualmente, os lugares e os tempos misturam-se de acordo com a lógica da ubiquidade e instantaneidade; e graças à sua virtualidade, multiplicam-se num processo de desterritorialização e dessincronização, através do qual o ser humano se coloca aquém e além do espaço-tempo da realidade fenoménica.
O cinema contribui desta forma à aceleração do processo de globalização e à modificação da conceção do espaço-tempo. As ferramentas digitais desenvolvidas nas últimas décadas ampliaram as possibilidades formais, estéticas e conceptuais de reprodução e representação do mundo para além do pensamento cartográfico de matriz euclidiano-newtoniana. Nestas circunstâncias, as paisagens e geografias audiovisuais configuram hoje a nossa visão do mundo, pelo que é preciso refletir sobre o seu processo de criação para compreender as lógicas que determinam a geopolítica mediática do presente e do passado.
Este novo dossiê temático da Aniki: Revista Portuguesa da Imagem em Movimento, dedicado às relações entre a cartografia, a paisagem e a imagem em movimento, será editado pelos três coordenadores do Grupo de Trabalho 'Paisagem e Cinema' da Associação de Investigadores da Imagem em Movimento: Filipa Rosário, Iván Villarmea e Francesco Giarrusso. A abordagem será multidisciplinar, pelo que aceitamos contributos vindos de áreas como os Estudos de Cinema, os Estudos Culturais, a Estética, a História, a Geografia, a Sociologia, a Antropologia e a Arquitetura. Alguns possíveis temas para os artigos deste dossiê podem ser, por exemplo, os seguintes:
· A imagem em movimento como ferramenta para a cartografia: os mapas audiovisuais.
· Estratégias formais e dispositivos de encenação utilizados na criação de paisagens mediáticas.
· Relação entre paisagens reais (objetivas) e paisagens mediáticas (subjetivas).
· Funções e significados da paisagem em diferentes géneros audiovisuais e / ou cinematográficos.
· Funções e significados da paisagem em diferentes cinemas nacionais.
· A paisagem através do tempo: paisagem e história nas imagens em movimento.
· Paisagens mediáticas e imaginários sociais.
· Imagens em movimento de paisagens urbanas e paisagens rurais.
· Imagens em movimento de paisagens e arquitetura.
· Paisagens analógicas / digitais.
· Paisagens mentais: imagens em movimento de sonhos, imaginações e recordações.
· O corpo (masculino / feminino) na paisagem: relações formais, narrativas e conceptuais entre figuras e fundos nas imagens em movimento.
· Paisagens mediáticas da crise económica atual.
· Paisagens coloniais e pós-coloniais: a paisagem da fronteira / a representação do outro cultural na paisagem.
· Paisagens em movimento: relatos e registos de viagens.
· Geografias do futuro: paisagens utópicas e distópicas.
O prazo para submeter os artigos termina a 30 de junho de 2016. Os artigos recebidos serão sujeitos a um processo de seleção e revisão cega por pares. Antes de submeter o seu artigo completo, consulte as Políticas de Secção e as Instruções para Autores.
Biografias dos Editores do Dossiê
Filipa Rosário é investigadora de pós-doutoramento e trabalha sobre ‘Paisagens do Cinema Português dos últimos 50 anos’ no Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. É professora adjunta convidada na Escola Superior Técnica de Abrantes - Instituto Politécnico de Tomar. Coordena o projeto ‘O cinema e o mundo - estudos sobre espaço e cinema’ (CEC-FLUL). É doutorada em Estudos Artísticos - Estudos do Cinema e do Audiovisual na FLUL, a tese defendida intitula-se In a Lonely Place - Para uma Leitura do Espaço do Road Movie a partir da Representação da Cidade Norte-Americana.
Iván Villarmea Álvarez é doutor em História da Arte pela Universidad de Zaragoza (Espanha) e licenciado em Jornalismo e em História Contemporânea pela Universidade de Santiago de Compostela (Galiza). Trabalha como professor de mestrado na Universidad Estatal de Milagro (Equador). É autor do livro Documenting Cityscapes. Urban Change in Contemporary Non-Fiction Film (Wallflower Press, 2015). Para além disso, co-dirige, desde 2013, a revista digital A Cuarta Parede (www.acuartaparede.com), para a qual co-editou o volume Jugar con la Memoria. El Cine Portugués en el Siglo XXI (Shangrila, 2014).
Francesco Giarrusso é membro integrado do Centro de Filosofia das Ciências desde 2013, nomeadamente do grupo de investigação ‘Ciência e Arte’ e do ‘Science Art Philosophy Lab’ da Universidade de Lisboa. Concluiu em 2013 o doutoramento em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa com o título O Regime Dialógico na Obra de João César Monteiro: Matérias e Conteúdos de uma Prática Subversiva. Atualmente é docente de Laboratórios Técnicos no Instituto de Instrução Superior Caterina Caniana de Bérgamo (Itália) e colabora com o site de crítica cinematográfica À Pala de Walsh (www.apaladewalsh.com).