O que é o Cinema Português? (prazo: 30 Junho 2015)
Em 2008, com o sugestivo título de A invenção do Cinema Português, Tiago Baptista publicou um pertinente ensaio, em forma de álbum fotográfico, onde alertava para a “invenção permanente” de um objeto chamado “cinema português”, que deveria dar corpo e sentido identitário aos filmes feitos em Portugal.
A obsessão em encontrar uma originalidade nacional para o cinema português tem sido recorrente ao longo dos 120 anos em que se produz cinema em Portugal. A ditadura do Estado Novo, pela sua longevidade, estabeleceu uma ideia para o cinema português que seria consagrada em 1948, através do art. 11.º da Lei 2.027 de 18 de Fevereiro, e que estabelecia três critérios para definir um filme português: “ser falado em língua portuguesa”, “ser produzido em estúdios e laboratórios (…) instalados em território português” e “ser representativo do espírito português, quer traduza a psicologia, os costumes, as tradições, a história, a alma colectiva do povo, quer se inspire nos grandes temas da vida e da cultura universais”.
Em linhas gerais, apesar de variações mais ou menos notórias, esta ideia sobreviveu até à atualidade, ultrapassando o processo de europeização do Novo cinema português, as cisões e permanentes recomeços do período revolucionário em curso, até o novo paradigma consolidado nos anos 80 pelo modo de produção internacional adotado por Paulo Branco e consolidado com a afirmação da designada Escola Portuguesa.
A permanência de muitas das características estéticas e de um determinado modo de produção no cinema português desde os anos 60 até à atualidade, nomeadamente na receção crítica, na canonização de uma cinefilia e uma cultura cinematográfica, e na consolidação de circuitos de promoção e exibição, favoreceu o estabelecimento de genealogias, filiações e afinidades no cinema português que, de forma clara, lhe moldou a face e o corpo.
Este dossiê temático da Aniki pretende reunir ensaios que analisem e reflitam sobre as diferentes ideias e conceções de Cinema Português que foram sendo esboçadas em ações, textos e filmes ao longo das décadas, desde textos jurídicos ou críticos, projetos políticos, políticas públicas, referências estéticas e correntes artísticas, obras produzidas em regime de coprodução internacional, percursos e trajetos de autores, entre outros.
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Paulo Cunha é doutor em Estudos Contemporâneos pela Universidade de Coimbra e leciona no Departamento de Comunicação e Artes da Universidade da Beira Interior. É investigador do grupo Correntes Artísticas e Movimentos Intelectuais do Centro de Estudos Interdisciplinares do Séc. XX da Universidade de Coimbra. Colaborador do LCV-UERJ/UFF (Brasil) e da Rede Proprietas (Brasil). Coordena, com Daniel Ribas, o grupo de trabalho História do Cinema Português da AIM. Editou, com Michelle Sales, a obra Cinema Português: um Guia Essencial (São Paulo: SESI-SP, 2013).